- Gênero: Romance
- Direção: Monia Chokri
- Roteiro: Monia Chokri
- Elenco: Magalie Lépine Blondeau, Pierre-Yves Cardinal, Francis-William Rhéaume, Monia Chokri, Steve Laplante, Marie-Ginette Guay, Guillaume Laurent, Mathieu Baron
- Duração: 105 minutos
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Qual a real natureza desse sentimento que seguimos tentando descobrir, muitas vezes em vão, do seu real valor e importância? Monia Chokri é uma atriz e diretora canadense, responsável por um filme tão singular quanto aparentemente frugal, A Natureza do Amor, que estreia nos cinemas brasileiros essa semana. Através do olhar da autora, acompanhamos inúmeros processos interligados e que exatamente por isso, desencadeiam uma série de eventos impossíveis de desconectar. É como se estivéssemos assistindo a um campo de possibilidades que são amalgamadas, e que só poderiam fazer sentido se unidas, mas que também fizessem parte de uma gênese particular. Olhando por um buraco de fechadura, iremos encontrar ao longo da produção apenas nosso reflexo embaçado.
É curioso que um filme que aparenta vender uma tese sobre algo, ou seja, uma visão universalizada sobre qualquer que seja o tema, desde a primeira cena se mostre tão atento ao detalhe, à minúcia impressa em cada imagem, frase ou entonação – mesmo o olhar importa. Na primeira cena de A Natureza do Amor vemos dois casais, Sophia e Xavier, Françoise e Philippe. O segundo parece uma ruína ambulante, prestes a desabar diante de filhos ruidosos e trocas de gritos; o primeiro, em perspectiva, é a visão da tranquilidade, em plena serenidade. Nesse mesmo jantar, a chegada de uma nova integrante à mesa mostra a real configuração de seus personagens sem sublinhar nada. Chokri muito rapidamente revela não apenas seu filme, mas sua capacidade como autora.
De construção muito significativa, clichês que também tem sua porção de aparência, aqui adquirem novos contornos, o que só mostra como mesmo o tradicional, só se revela inorgânico dependendo de quem o utiliza, e como. Por trás do que se vê em A Natureza do Amor, reside o alcance do que se vê; não são apenas um grupo de imagens que revela seu propósito, mas como Chokri persegue o que ninguém vê. As mãos, os olhos, a modulação da voz, tudo implica em significado e significância, e diante de cada novo avanço, seu dispositivo funciona porque o espectador capta os sinais antes dos personagens. Isso sem jamais atentar para a diminuição da obra por antecipação. Tal movimento permite a quem assiste investigar as pistas deixadas, que levam (ou não) a uma ação futura.
Trata-se de um jogo onde a atriz e diretora trabalha constantemente com super closes, na representação da investigação urgente sobre aqueles corpos, montando assim o quadro de A Natureza do Amor. É a dúvida silenciosa que leva alguém a reparar o próximo alguém, e aí sim desencadeia um processo coletivo, e não o oposto – será?; é o delírio da paixão que, por mais que projete o futuro, não deixa de mostrar o campo do descontentamento e do absurdo. Existe maturidade na forma como vemos Sophia e Sylvain, ele como o elemento catalisador em cena… ou será que não? Aproximar e afastar as imagens para, com esse movimento, ampliar ou restringir as muitas sensações experimentadas em cena nos mostra que vivemos hoje um cinema que cada vez se restringe mais; uma história a respeito do toque, do sonho, e de uma realidade que não se busca, mas se impõe.
Chokri estabelece uma dinâmica a A Natureza do Amor que não se arrisca por um gênero definido, embora o sucesso das comédias românticas em 2024 coloque o marketing para definir o filme assim. Na verdade o que presenciamos é a gradativa aproximação entre dois personagens, que motiva a separação entre o casal inicial. É muito simples em como se apresenta, mas sofisticada a forma como monta seu quadro, porque existe um trabalho fundamental de mise-en-scene, que reconfigura uma história que até se entende como banal. E somente uma mulher poderia sim colocar a narrativa feminina como agente dos eventos de um filme como esse; Sophia é a mantenedora por trás dos eventos, e sua independência de ação não é traduzida diretamente ao emocional.
Essa é uma das bossas da aventura da coisa toda – não há caminho certo, e as burradas estão aí disponíveis para serem feitas mesmo, por todos. Vai, ao final das contas, longe de encapsular A Natureza (exclusivamente) do Amor, mas um tanto do que é natural ao ser. As portas são abertas, muitas vezes, para que possamos sair e procurar novo conforto, ainda que diferente do anterior. Quando o resultado do quadro apresenta desconforto em nós mesmos, é o sinal de que talvez o melhor a fazer seja a reconexão particular. Não há nada de super elaborado no pensamento, mas com certeza há na condução excepcional de Chokri.
Um grande momento
A cena inicial, onde a direção já apresenta suas armas