Crítica | Festival

Invisível

Viver em seus tempos

(Invisível , BRA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Documentário
  • Direção: Carolina Vilela, Rodrigo Hinrichsen
  • Roteiro: Carolina Vilela, Rodrigo Hinrichsen
  • Duração: 88 minutos

Originalmente, Invisível foi pensado como um curta-metragem. Os diretores Carolina Vilela e Rodrigo Hinrichsen descobriram essa história que contam aqui, e perceberam que ela daria facilmente um filme. A ideia era realizar um curta, mas ao entrevistar e adentrar as intimidades do casal formado por Claudia Sofia e Carlos Jorge, surdoscegos casados há 15 anos e que tem uma história ao menos inusitada para contar aqui. O que não se imaginava era se envolver de maneira tão emocional que não percebesse que talvez, caso mantivesse a ideia original, sua obra teria a potência dobrada. O que vemos aqui é uma trajetória cheia de camadas que vão sendo respondidas ao longo da projeção, mas cujo fôlego ideal seria a de uma visita mais concentrada a essa narrativa. 

Vilela e Hinrichsen tinham ideia de que tal material talvez fosse excessivo para comportar um longa, mas ainda assim escolheram correr o risco. O resultado é um filme que passeia entre a necessidade e a beleza de explorar as muitas possibilidades que o encontro com o casal permitia, e um espraiamento que não ajuda as possibilidades cinematográficas. Essa ilusão do tempo, que garante ao longa-metragem uma passabilidade maior, não significa muita coisa quando temos um desajuste entre intenção e resultado. A história que vimos (ou qualquer outra história) não é ampliada ou diminuída por sua duração, mas as escolhas feitas sim podem tirar potência do que se vê. Invisível chega no limite de provocar o oposto do que gostaria. 

Entendo, no entanto, que a ideia fosse acompanhar aquela realidade da forma como ela é, com seus tempos e suas dificuldades. Isso não é um problema em si; o mesmo Cine PE 2024 abriga Memórias de um Esclerosado, filme com um ponto de partida semelhante – acompanhar uma realidade PCD nos termos que ela comporta. Temos, assim, o melhor longa do festival, sem qualquer problema com seu trabalho de edição. Em Invisível, o que vaza é a sua vocação para algo reduzido mesmo, passando a impressão de que ficamos mais tempo ao lado dos personagens do que a estrutura pensada para a produção pedia. O fascínio do que vemos vem das relações entre os protagonistas, e não pela forma como seus diretores se comprometeram com o material. 

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Uma série de curiosidades é apontada em cena, como as suas necessidades em inserir-se em um quadro de normalidade, como quando a manicure visita Sofia, ou quando uma certa discussão acerca da presença em um show de música. Invisível insere seus personagens em um ambiente de inclusão natural, sem questioná-los por isso. Incluindo nesse lugar não torná-los refém de um discurso paternalista, ao engrandecer possíveis grandes feitos. Sua busca é pelo acesso à dita normalidade cotidiana: preparo de um café, cuidados estéticos, o olhar afetuoso de um casal que se expressa como tal, sua relação com a pandemia. O que é tão fantástico ao assistir o filme é esse lugar de manutenção de um lugar menos agudo e mais funcional para eles. 

Cada detalhe explorado por essas pequenezas reconhecidas pela produção são caminhos que fazem Invisível se sobressair no meio do que é. Os diálogos que testemunhos no filme, cada um deles, faz ressaltar algo da personalidade de um deles em cena, sem tornar didático a forma como se mostra. Tanto quando a irmã invade a tela, como na visita que eles fazem ao casal de amigos, vêm à tona as ranhuras que os acompanham, e que os torna ainda mais palpáveis. São esses momentos que acompanhamos o bom humor de Sofia, a inteligência política de Carlos, e a forma como eles se apaixonaram contra todas as barreiras, e que mostram um casal que vive relativamente dentro de uma normalidade buscada, e plenamente alcançada, apesar dos pesares. 

Um grande momento

A praia de nudismo

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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