Crítica | Festival

Malu

Entre o amor e a fúria

(Malu, BRA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Pedro Freire
  • Roteiro: Pedro Freire
  • Elenco: Yara de Novaes, Juliana Carneiro da Cunha, Carol Duarte
  • Duração: 100 minutos

Sempre muito, contagiante, Malu é intensa. Uma figura única que preenche todo o espaço em volta de si. De maneira positiva e negativa, num retrato complexo de afeto e rancor, é paulatinamente que sua persona vai sendo compreendida seja por aqueles que com ela compartilham o cotidiano como por aqueles que presenciam os momentos escolhidos para contar a agora a sua história. História esta que o diretor Pedro Rocha resgata para buscar, de alguma maneira, sua mãe, a atriz Malu Rocha, das emoções e ideologias que a motivavam, das dinâmicas familiares e dos seus últimos dias. 

A trama se concentra no encontro de três gerações: Malu, sua mãe e sua filha. Cada uma com sua potência e característica, deixa evidente o quanto de divergência e trauma pode haver na relação, nas relações. Em um jogo de manutenção caótico, são limites que não se respeitam, desejos que se abandonam, descasos que se perpetuam e feridas que se cultivam. Ao mesmo tempo, há a incongruência de preocupação, medo e cuidado, algo que vem de um afeto que nunca deixa de existir. O bolo e o castigo.

É difícil trabalhar com tantas emoções e criar um equilíbrio tendo elementos díspares tão extremados em jogo, porque os elementos são familiares, reconhecíveis, mas tudo é muito mais intenso aqui. Porém, o roteiro de Freire, mesmo com a dificuldade extra de ter que lidar com uma história íntima, consegue encontrar o seu ponto e fazer com que tudo funcione bem. A direção também é funcional, e consegue dar vazão à pluralidade das personagens, em especial à complexidade de Malu, com toda sua aura sombria e, ao mesmo tempo, luminosa; amarga e afetuosa.

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E não há como falar de toda a construção dessa personagem sem falar de Yara de Novaes. Além da capacidade de ocupar as cenas, atraindo todas as atenções, a atriz transita entre extremos com muita facilidade, indo da força à fragilidade em segundos e sem que se deixe de acreditar naquilo que ela apresenta. Em cena junto com ela, também ótimas, estão Juliana Carneiro da Cunha como Lili, a avó; e Carol Duarte como Joana, a filha.

Malu é um filme forte, que faz o espectador experimentar muitas emoções e compreensões. Exagera por vezes, em especial quando trata de alguns assuntos sem o cuidado que deveria, mas que acerta quando se concentra na construção dos embates geracionais, seu ponto mais forte. Além de ser uma bela – e complexa – elaboração de personagem. Construção que se sabe ser uma das mais difíceis de fazer, por toda a carga emocional que isso naturalmente demanda. E falar da própria mãe, como no caso de Freire, faz dessa carga ainda maior. 

Um grande momento
Gritando o abandono

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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