- Gênero: Drama
- Direção: Halina Reijn
- Roteiro: Halina Reijn
- Elenco: Nicole Kidman, Harris Dickinson, Antonio Banderas, Sophie Wilde, Esther McGregor, Vaughan Reilly, Victor Slezak, Leslie Silva
- Duração: 114 minutos
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Os anos 1980 e 1990 foram marcados por thrillers eróticos de cunho moralista, onde poderosos homens de negócios eram atraídos por mulheres sedutoras e tinham suas vidas viradas de cabeça para baixo pelas mulheres loucas e/ou malévolas com quem se envolviam. Bem longe de tudo isso, o tempo passou, o mundo mudou, e Babygirl vem contar a sua história em um contexto diferente. Quem tem o poder é Romy, CEO de uma empresa de automação. Bem-sucedida no trabalho, tem uma vida estável com a família: um marido bonitão e suas duas filhas.
A diretora Halina Reijn, de Morte Morte Morte, traz camadas que fazem com que seu filme vá além das tramas antes vistas, transformando aquilo que se estabeleceu como subgênero. Há uma elaboração da persona da protagonista que fala muito sobre a sociedade em que vivemos hoje e fica evidente, logo nos primeiros minutos do filme: o contrassenso entre aquilo que se mostra e o que se sente, a figura que se precisa manter para ocupar uma determinada posição. Ultrapassando o espaço corporativo, mas talvez também por causa dele, a pose de perfeição negligencia o desejo para manter um padrão estabelecido.
Romy é vivida por Nicole Kidman, em uma atuação interessante, que busca as contradições de sua personagem e explora bem conflitos de fácil identificação. Sua segura e estável empresária se perde na curiosidade pelo novo estagiário que inverte os papéis. Aqui novos elementos se apresentam além do desejo, que é óbvio e evidente, e se soma à questão da imagem, tão importante para a personagem quanto para qualquer outra mulher. Paradoxalmente, a despeito de onde se esteja, a insegurança com a aparência está presente, e leva a lugares desnecessários, assim como o medo e o ciúme.
A relação que ambos estabelecem também define um jogo que contraria a postura estabelecida fora dele, assim como, em nível macro, altera a configuração usual em relações onde a diferença etária ou de poder acontece. Nessa dinâmica, uma libertação surge pelo proibido, mas também pela descoberta, pela entrega, pela permissão de estar em um outro lugar e em posição diversa. Há muito o que se ver em Babygirl e Reijn consegue trazer tudo de maneira orgânica nessa embalagem sexual que faz tanto sentido. A relação entre sexo e poder, afinal de contas, é algo que vem definindo muito do que hoje existe.
Inegável porém que o filme é vacilante em muitos momentos e poderia ser mais atento no roteiro e na própria direção, por mais interessante – e delicioso – que seja em sua temática e abordagem. Kidman e seu parceiro de cena, Harris Dickinson, estão ótimos nos papéis e conseguem provocar toda a tensão necessária para que o filme chegue lá. Antonio Banderas, o marido, também está muito bem, e cumpre um papel fundamental, em especial pela contradição que emprega a uma figura sempre tão imponente em tela.
Ao fim e ao cabo, é sempre bom voltar a um lugar conhecido, mas vê-lo configurado, abraçando o kink, e deixando para trás configurações determinantes ultrapassadas e o moralismo tão comum dos filmes de antes. A diretora consegue fazer isso. Babygirl pode é um bom thriller erótico, mas é mais do que isso também.
Um grande momento
“Father Figure”