- Gênero: Ação
- Direção: José Eduardo Belmonte
- Roteiro: L.G. Bayão
- Elenco: Murilo Benício, Christian Malheiros, Robson Nunes, Paulo Miklos, Fernanda de Freitas, Matheus Macena, Ariclenes Barroso,Shaolin, Vertin Moura, Vinicius Marinho
- Duração: 90 minutos
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José Eduardo Belmonte é um diretor inquieto. Ao longo da carreira, passou por diferentes registros, indo do drama político ao cinema de ação, da experimentação autoral à comédia popular sem nunca se acomodar em um único gênero. Assalto à Brasileira, seu novo longa, é mais um exemplo dessa versatilidade, um filme de assalto que se constrói sobre um dos episódios mais insólitos da história recente do país: o roubo ao Banestado em Londrina, em 1987, e que transforma o caos no retrato de uma nação acostumada a rir do próprio desastre.
Belmonte parte do fato real, mas não se interessa em reconstruí-lo com precisão documental. O que o atrai é o absurdo. Seu cinema sempre buscou zonas de desconforto, o limite entre o real e o caricatural, entre o drama e o deboche, e aqui ele se aproveita do tom tragicômico para comentar um Brasil que não mudou tanto quanto gostaria de acreditar. O assalto se torna pretexto para falar da falência moral, política e emocional de um país que normalizou a improviso como forma de vida.
Murilo Benício vive Paulo Ubiratan, um jornalista recém-demitido que, por acaso, vira refém, negociador repórter do próprio assalto. A partir desse ponto de vista enviesado, o filme mistura farsa e desespero, ridículo e real. A agência bancária é cenário de uma tragicomédia nacional que reúne bandidos desajeitados, reféns que opinam sobre o crime e a imprensa que transforma tudo em espetáculo. Belmonte sabe como trabalhar com o tom híbrido. O riso vem do desconforto, e o desconforto revela o que há de mais genuinamente brasileiro no episódio.
É um cinema que se sabe irregular e que transforma o improviso em método. As limitações materiais, longe de comprometer, servem como combustível para a invenção. A reconstituição dos anos 1980, com seus figurinos e cabelos exagerados e uma direção de arte que mistura o real e o teatral, contribui para esse clima de farsa melancólica. Belmonte cria um Brasil em miniatura, onde tudo parece prestes a desmoronar e, por isso mesmo, tudo é risível. O ritmo dinâmico, a montagem nervosa e o humor de borda fina reforçam essa sensação de caos coreografado.
O diretor não se esconde atrás do nonsense. Entre uma sequência absurda e outra, há uma reflexão sobre desigualdade e privilégio. O roteiro, coescrito com L.G. Bayão, coloca em evidência os contrastes sociais, com ladrões amadores e pobres; o jornalista branco e culto, e a plateia que torce pelo crime como válvula de escape, em especial num país como o dos anos Sarney. O discurso, porém, sem nunca pesar mais que a cena. A crítica social está embutida na própria forma, no modo como o filme ri da desorganização estrutural que o país carrega há décadas.
Assalto à Brasileira é imperfeito, mas sua imperfeição é viva. É um filme que pulsa na mistura de tons, na recusa à neutralidade, na tentativa constante de reinventar um cinema popular com identidade própria. Belmonte, mais uma vez, arrisca. E se o resultado às vezes vacila, é justamente porque há ali algo que o esse cinema brasileiro precisa encontrar: o desejo de experimentar. Entre o riso e a crítica, o deboche e o desalento, o filme reafirma a força de um diretor que sabe que não precisa temer o descompasso.
Um grande momento
Enquadrando Fonseca


