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A Bruxa

(The Witch, CAN, EUA, 2015)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Robert Eggers
  • Roteiro: Robert Eggers
  • Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw
  • Duração: 90 minutos

Uma família acaba de ser expulsa de uma comunidade por questões religiosas e se muda para um pequeno pedaço de terra ao lado de uma floresta. Extremamente cristãos, os pais e seus cinco filhos tentam sobreviver em uma terra infértil.

Esta é a história por trás de A Bruxa. Robert Eggers (Spirit Cabinet) opta, desde as primeiras cenas, pelo adensamento da atmosfera, o que funciona muito bem na construção do suspense, fundamental para o desenvolvimento de sua trama de terror fantástico. Misturando temas como fé, ocultismo, adolescência e feminino, constrói não só interessantes personagens, como dá sentido na relação entre eles, contaminada e cega pelo fanatismo.

Quem conduz o espectador na jornada é a jovem e diferente Thomasin. Primeira filha do casal de camponeses, ela precisa conviver com a vontade de não viver naquele lugar, a saudade da Inglaterra e a ruptura com o laço familiar após um acidente na floresta. A jovem Anya Taylor-Joy consegue dar consistência à personagem, alternando silêncios e discursos, olhares e atitudes mais duras, e tomando para si a responsabilidade de, dentro do universo criado, destoar do estabelecido.

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Ralph Ineson (Kingsman: Serviço Secreto) e Kate Dickie (Prometheus) vivem os pais, os únicos adultos com quem temos contato na maior parte do filme, e estão muito bem em seus papéis, assim como Harvey Scrimshaw na pele de Caleb, o irmão pré-adolescente.

A boa ambientação é garantida por Craig Lathrop (Lobos) no desenho de produção, Mary Kirkland (Longe Dela) na cenografia e Linda Muir (Quando a Noite Cai) nos figurinos, em um trabalho minucioso com as cores terrenas, com destaque para o marrom e o verde, e com apostas no sépia em cenas de interior. A recriação de época também não desaponta. Além disso, Jarin Blaschke (I Believe in Unicorns) apresenta uma direção de fotografia consistente.

Com muitas coisas no lugar e um bom texto, A Bruxa consegue segurar o ritmo durante quase toda a projeção, provocando o espectador com a ausência de imagens, passagens inexplicadas e uma apreensão interessante para o gênero.

Porém, a vontade de sempre explicar mais do que precisa ser explicado, aquela armadilha de achar que o mostrar e concluir são importantes para o espectador acaba pegando Eggers no final, que seria sensacional se ele terminasse o filme alguns minutos antes e deixasse o suspense ir para casa com quem assistiu ao filme.

Ainda assim, é um filme interessante por conseguir despertar as sensações que se empenhou em criar e pelo vigor jovem com que o faz. Ainda que se complique no final, vale a pena conhecer.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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