Crítica | Streaming e VoD

Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História

Um faxineiro de futuro

(Flamin' Hot, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Drama
  • Direção: Eva Longoria
  • Roteiro: Lewis Colick, Linda Yvette Chávez
  • Elenco: Jesse Garcia, Annie Gonzalez, Emilio Rivera, Vanessa Martinez, Dennis Haysbert, Tony Shalhoub, Bobby Soto, Matt Walsh, Hunter Jones, Brice Gonzalez
  • Duração: 96 minutos

Esse foi um ano incomum para o cinema, enquanto mantenedor de uma, como posso dizer, linguagem que favoreça o lançamento de produtos. Ou a história por trás dos mesmos. Ou um outro tempo, e por trás de cada marca, uma leitura da sociedade através de cada criação. Esse ano já tivemos a criação e distribuição de um jogo russo revolucionário (Tetris), a contratação de um dos maiores astros do basquete de todos os tempos causada pela confecção de um tênis (Air), o lançamento de um celular revolucionário (Blackberry, que ainda não estreou no Brasil) e a fantasia em torno da boneca mais famosa do mundo (Barbie). Ontem, a Star+ colocou em seu streaming Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História, mais um desses casos e talvez o mais fora do comum de todos, e que ainda assim guarda uma origem consagrada pelo sonho americano. 

Estamos falando do que levou Richard Montañez, no início dos anos 1990, a criar o tal sabor, oriundo de suas origens mexicanas, e que foi parar na marca de salgadinhos mais famosos da América. E foi assim que o tal tempero super picante, tradicional da culinária do México, foi parar nos Cheetos, Doritos e tantos outros formatos que levaram a Pepsico a liderar o mercado praticamente até hoje, e seu criador a uma virada na própria trajetória. E é daí que surge o interesse por essa história, ao acompanhar a jornada de Montañez desde criança, seus percalços familiares, sua relação com o mundo do crime, e seu emprego como faxineiro de uma fábrica. É uma saga que se confunde com a de tantas famílias imigrantes desde seu início, e acaba por se tornar única e precursora a partir de certo ponto.

Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História é uma aposta de Eva Longoria para sua estreia na direção de longas. A estrela de Desperate Housewives já dirigira inúmeros episódios das séries mais diversas, e acabou se interessando pela adaptação do livro escrito por Montañez a seu respeito, contando sua luta até ser reconhecido como um ser humano dotado das possibilidades que sempre lhe foram negadas. Não há como negar que é uma pessoa verdadeiramente inspiradora, com um relevo que o torna especial entre seus pares, e que tal empenho está impresso em cada linha narrativa aqui. Mas a verdade é que o filme é burocrático no que se propõe, e que o espectador precisa se encantar por essa história sem a ajuda da direção, que não se empenha além do básico. 

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Escrito por Lewis Colick e Linda Yvette Chávez, Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História não se resolve muito bem na tentativa de construir uma linha de ambição que seu protagonista tanto perseguiu na vida. Ao contrário de quem retrata, Longoria organiza uma ideia que até é interessante, mas que se repete e acaba por não se justificar. É uma ideia do personagem costurar seus eventos com sua própria voz reinterpretando os personagens que o rodeia; é simpático e nos pega desprevenido pela primeira vez, mas o recurso não avança e acaba por não agregar maiores chegar representações desse jeito. Se fosse usado apenas uma vez, teria sido um devaneio bacana e divertido; do jeito que acaba por se tornar, é só uma tentativa vã de criar um diferencial em uma narrativa biográfica.  

Podia ter sido criado uma linguagem imagética que ocupasse também uma tentativa de rebuscar o que vemos, mas não há empenho, ao que parece. As primeiras imagens da infância de Montañez sugerem que um filme minimamente ambicioso estaria se desenhando, mas logo isso se torna apenas uma impressão não-cumprida. O filme não demarca qualquer diferencial seja na mudança dos visual do casal protagonista, ou mesmo na direção de arte do filme; tudo é tratado sem o apuro de determinar que estamos diante de uma mudança, maior ou menor, dentro da narrativa. Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História não se ressente por não apresentar nada de novo, porque sua intenção é apenas a de contar aquela passagem e seguir adiante. 

Em sua reta final, Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História sai do limbo das sensações e parece criar, enfim, com o público um elo emocional. Por mais que se soubesse desde o início onde aquela história ia chegar, a chegada é de fato a recompensa pro espectador chegar até o fim. Com uma interpretação empolgada de Jesse Garcia (que acabou de ser visto em A Mãe) que tenta levar o público por um caminho mais efusivo, é graças a ele que o filme nunca determina um ponto morto. Ainda assim, nenhum milagre é alcançado graças à sua interpretação; no fim, ele também abraça a emoção e encontra seu melhor momento em um filme que não possui muitos. 

Um grande momento

A placa

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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