Crítica | Streaming e VoD

A Elefanta do Mágico

A magia acontece

(The Magician's Elephant , EUA, AUS, 2023)
Nota  
  • Gênero: Animação
  • Direção: Wendy Rogers
  • Roteiro: Martin Hynes
  • Duração: 95 minutos

O poder da crença na magia, da fé no fantástico, de que algo surpreendente aconteça e transforme nossas vidas, é um ponto de partida até comum em animações; Disney e Pixar já abusaram desse plot com alguma tranquilidade. Dessa vez, a Netflix apresenta esse novo A Elefanta do Mágico, estreia de hoje de traços exóticos, quase remetendo a um ‘stop-motion’ computadorizado. Com frequência cada vez maior, o streaming investe no setor e acabou de ganhar seu primeiro Oscar da categoria com Pinóquio, depois de chegar bem perto com Klaus. Não deve ser o caminho desse filme novo, uma estreia de março, mas serve para mostrar o investimento deles contínuo e promover um novo sucesso. 

A animação é a estreia na direção de Wendy Rogers, profissional de efeitos especiais veterana que trabalhou em filmes como Shrek e Waterworld, que assumiu esse projeto que inicialmente seria um live action, mas que conseguiu o sinal verde depois que a Netflix assumiu o projeto. Por acabar entrando no segmento de animação, o filme pode assumir um caráter de fantasia delirante que exigiria muitos efeitos em uma produção de carne, osso e concreto. O que parecia então infilmável virou uma realidade que convence o espectador disposto a mergulhar na magia de se acreditar no sonho para que ele se realize, afirmando que tudo que estiver ao nosso redor, pode tornar-se realidade; é só querer. 

A Elefanta do Mágico
Netflix

Baseado no livro de Kate DiCamillo, A Elefanta do Mágico conquista o espectador de todas as idades porque investe em personagens com dilemas de origens múltiplas. Não é apenas o menino protagonista que precisa acreditar que algo irá mudar a sua vida, mas todos que o cercam de alguma forma, e todos são adultos. Alguns deles têm desejos muito comuns e estão igualmente em situação de se agarrar a uma última esperança de provar que podem sim ainda mudar seus destinos. Contando com uma premissa envolvente, é relativamente fácil para a produção comprar o espectador com tal cenário, principalmente porque todas as narrativas estarão unidas, de uma forma ou de outra, aí sim voltando a crer na força do imponderável para a realização dos sonhos. 

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É dessa matéria-prima que vivem também as ficções científicas, que no fundo são a base dos longas animados; universos fantásticos onde coisas impossíveis podem acontecer a seres igualmente impossíveis. Um mágico que realiza o surgimento de um paquiderme, uma criança capaz de voar, um casal que não consegue ter filhos: de uma fantasia a outra, aos poucos o inconcebível vira perfeitamente normal, e A Elefanta do Mágico consegue essa aglutinação. Como se dissesse que nem todo passe de mágica está longe do tátil, e nem todo sonho possível está tão ao nosso alcance assim. É uma questão de subjetividade ou, trocando em miúdos, uma questão de acreditar, e de crença em crença, alcançar enfim o que podemos, enfim, ter. 

A Elefanta do Mágico
Netflix

O que acaba sendo o material de sedução em A Elefanta do Mágico são as possibilidades de perder as barreiras entre o que a imagem pode ou não, levando a ilusão para além do título. Com sequências de sonho quase lisérgicas, onde balés de elefantes nos fazem pensar na inspiração em Fantasia, Rogers permite ao seu filme um lugar de comunicação a outros públicos que não apenas o infantil, sem perdê-lo. É uma forma de dizer que a criança não precisa ser paternalizada ou ter sua cognição alterada só por não ter maturidade. O que é do sensível, é compreendido por todos, e acaba aguçando a imaginação dos pequenos, a despeito de um certo desserviço quanto a um ‘salto de fé’ dado pelo protagonista. 

É como ter a ciência do que é palpável, mas deixar a fábula fazer parte do processo e transformar tudo em um único amálgama. Sem impedir a emoção de chegar – afinal, A Elefanta do Mágico é, essencialmente, um filme sobre a formação de novas famílias – Rogers entrega um material caprichado de técnica, que nunca abre mão do sensível em seus planos. É uma ideia que compreende o processo de cinema sem perder os laços que cria com o público final, e acaba por amarrar literalmente todos os seus pontos em uma espinha dorsal poderosa. 

Um grande momento

Sonhando com elefantes

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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