- Gênero: BRA
- Direção: Bruno Torres
- Roteiro: Simone Iliescu, Bruno Torres
- Elenco: Simone Iliescu, Rosane Mulholland, Bruno Torres, Ingra Lyberato, Zécarlos Machado, Murilo Grossi, Júlio Matsunaga
- Duração: 115 minutos
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Liz dirige seu carro. Liz olha para a parede. Liz olha o relógio. Liz olha a paisagem. Liz está milimetricamente enquadrada no plano, em perfeição quase publicitária. Se juntarmos toda a duração de A Espera de Liz, que estreia hoje nos cinemas, veremos que realmente ela espera. E espera. E espera. Mas pelo quê espera Liz? Na meia hora final, talvez saibamos… talvez não. Mas Liz espera, de verdade. E o espectador, espera junto, talvez na esperança de encontrar uma realidade onde todas as belas imagens captadas pela produção deem liga, e consigam ir além de uma superfície metaforizada e bastante plastificada. Esperamos junto com Liz; talvez ela consiga as respostas que precisa.
Bruno Torres é bom ator, já foi indicado a prêmios por Somos tão Jovens, tem uma carreira promissora, e aqui não apenas é o protagonista da segunda parte da produção, como também dirige, produz e roteiriza o filme ao lado de sua protagonista, Simone Iliescu (de Riocorrente). Ou seja, se transformou em autor, comandando uma obra com o máximo de braços possíveis. E aí precisamos separar esses caras: o Bruno ator, o Bruno diretor, o Bruno roteirista e o Bruno autor. Porque claramente alguns deles se perderam no caminho até essa obra que roda em círculos na tentativa de não parecer machista, e no esforço hercúleo de parecer relevante, cinematográfica e socialmente.
O Bruno ator está bem, mesmo que suas passagens sejam quase tentativas de monólogos e interações esparsas com personagens transeuntes e vagos; o personagem busca um perdão, uma redenção, e Bruno chega a esse lugar de demonstrar sua capacidade em representar esse lugar. Já sua parceira Iliescu não tem muito material com o qual lidar, tampouco Rosane Mulholland, porque ambas estão constantemente imersas em um lugar introspectivo demais para que nos importemos com o que quer que esteja acontecendo. Apesar de absolutamente irritante, e era essa a intenção, o brilho do elenco vai para Murilo Grossi, um convidado absolutamente sem noção de uma renovação de bodas. Em sua última cena, percebemos sua qualidade de ator, já vista antes.
O Bruno diretor demonstra conhecer bastante de concepção de planos, investe em alguns verdadeiramente bonitos e elaborados, mas que pecam por uma extensão profunda de sua duração, Não consigo culpar o premiado montador Gustavo Giani (de Linha de Passe, Besouro, de Cidade dos Homens…) porque Bruno tinha o projeto todo embaixo do braço, como produtor, a autoria era absolutamente sua. E, a despeito da beleza do que captura, tais imagens, tão óbvias muitas vezes, aludindo a um luto – Liz está sempre de preto, em cenários cinzas, sempre descentralizada para marcar seu isolamento solitário – a repetição de suas intenções desgasta o projeto como um todo. Que o filme se torne vivo e iluminado com a entrada em cena do macho que causou tudo, não melhora o filme e piora as intenções demonstradas.
E aí caímos no Bruno roteirista, que montou esse encadeamento, dando protagonismo a um homem obviamente abusivo, inclusive na forma como irrompe na produção, tornando-a menos lúgubre com sua presença. Percebemos que suas motivações podem ter sido as melhores, trazendo Iliescu pra junto de si no roteiro para extirpar possíveis machismos entranhados, mas não é o suficiente para que deixe a produção fluida. Existe excesso de encenação estética e uma ausência de elaboração narrativa, que justifique A Espera de Liz para além dos telefonemas finais de Miguel, onde tudo tenta amarrar a longa duração anterior. Fica no ar uma ideia de vazio que não é valorizada na produção, porque não conseguimos comprar a realidade de nada ali.
Chegamos então ao Bruno autor, e bem, há de ser necessário uma delegação de oportunidades, porque a concentração de funções muito mais vezes atrapalha do que contribui, independente dos inúmeros casos bem sucedidos. Bruno Torres vai completar 42 anos no futuro, e começou a rodar A Espera de Liz aos 35; há de se enxergar sua gana jovem de abraçar o mundo, mas também é necessário ser humilde e reconhecer o quanto se faz útil mais experiência. Não há de se conseguir o que se quer apenas com boas intenções, que conseguimos perceber. Excessos podem ser tão comprometedores quanto ausências, e A Espera de Liz incorre em ambos.
Um grande momento
O abraço de despedida entre Matheus e Martinelli