- Gênero: Drama, Suspense
- Direção: Neil Burger
- Roteiro: Elle Smith, Mark L. Smith
- Elenco: Daisy Ridley, Ben Mendelsohn, Garrett Hedlund, Brooklynn Prince, Gil Birmingham, Caren Pistorius
- Duração: 105 minutos
-
Veja online:
Mais um caso do fenômeno do momento do nosso circuito “veja um filme e leve dois”. Além de Resistência e Nostalgia, estreia essa semana esse A Filha do Rei do Pântano, mais um título que se vende como uma coisa, na verdade é outra, mas fica trocando de roupa durante sua duração. Dos três títulos, esse aqui me parece o mais honesto e assumido, porque trata-se de uma produção que tem ciência de sua condição popular, e mesmo o que parece adensado, está ali para produzir uma reviravolta na direção do gênero mais explícito. Então já entre na sessão sem se enganar: o que você está vendo, que a direção tenta emular uma certa ambientalidade mais elaborada, na verdade está no caminho certo para apresentar suas reais armas em seu tempo.
Isso não mascara suas qualidades discursivas, no tratamento da elaboração do olhar sobre a marca que o habitat natural de cada indivíduo imprime em sua personalidade, e o quanto do que é feito do ser em relação ao que a sociedade molda. A Filha do Rei do Pântano é baseado em um romance, e através desse material bruto discute uma ideia de sedução que o Mal pode travestir-se no processo de aproximação de alguém. O quanto fica impresso no nosso DNA a maquinaria do horror cometido, e o quanto expelimos com o tempo, e o que define nosso caráter – é algo adquirido pelo nosso meio, ou pode ser negado enfaticamente. Não é uma discussão rasa ou desinteressante o que é proposto pelo que vemos, mas sua impressão é diminuída pela costura do gênero, que acaba se mostrando mais efetiva.
No caminho, o filme dirigido por Neil Burger (de Divergente) discute também a relação do homem com a natureza, quase como uma experiência de “síndrome de Estocolmo”; presa por tanto tempo há uma geografia, como ainda amar aquela verdade? Essa é uma vertente forte em cena, a pressão para um chamado natural ao que é de nossa formação, enquanto não conseguimos fugir de algo que já faz parte de nossa constituição, mesmo que essa condição tenha sido forjada pelas circunstâncias da violência. E o quanto acabamos por abolir o que não é conveniente, sejam as lembranças do Bem ou do Mal; que elas ressurjam como um flash acionado por um novo confronto de memória, é uma ideia boa que chega até a narrativa expandida de A Filha do Rei do Pântano.
O direito do indivíduo por ser quem se quer ser, e não apenas um produto do seu meio; que se lute contra essa imposição social, ou contra uma criação que se mostra errônea, é uma das outras discussões que o filme poderia bancar. No entanto, A Filha do Rei do Pântano não pretende vingar seu roteiro como um material de caminho metafísico, e sim construir um alicerce para o posterior cinema de gênero que é, enfim, desnudado a partir de sua metade. Não é como se tudo fosse jogado fora então, mas sua empolgação é visível a partir do ponto em que desdobra essa nova aquisição cinematográfica. E trata-se de um produto que abre mão do que tinha sido elaborado visualmente, para se transformar em um filme de encomenda, liberando suas qualidades para buscar outras paragens.
Mesmo a conclusão, acerca do chamado selvagem que nos constitui, poderia ter mais predicados aparentes, do que exatamente o desfecho de um jogo popular. Ao assumir uma levada de comunicação direta com o espectador, A Filha do Rei do Pântano diminui seus potenciais para uma conversa menos ampla. O problema não é um projeto assumir seu viés comercial, mas não entender de que poderia ir além de ser apenas uma coisa ou outra coisa. Quando pula suas possibilidades de diálogo, após ter encaminhado suas intenções iniciais, o filme também abandona o que já tinha sido preparado, para mostrar que eram essas as verdadeiras intenções desde o princípio. Não deveria ser vergonhoso querer comunicação com o público final sem atravessador, mas o projeto aqui parece ter.
No meio disso, não conseguem florescer bons atores como Daisy Ridley, ou excelentes como Ben Mendelsohn, ou ótimos como Garrett Hedlund (com um personagem que o filme não desenvolve). Quem sobra em cena é o amadurecimento de Brooklynn Prince, a pequena grande atriz revelada em Projeto Flórida. Como a versão jovem da protagonista, a menina mostra que nenhuma aposta em relação a ela foi equivocada; sua presença é mais uma prova das qualidades de A Filha do Rei do Pântano quando olha para os humanos, e abdica das fórmulas práticas.
Um grande momento
A tentativa de fuga da pequena Helena, assim que é resgatada