- Gênero: Comédia
- Direção: Wes Anderson
- Roteiro: Wes Anderson
- Elenco: Ralph Fiennes, Benedict Cumberbatch, Ben Kingsley, Dev Patel, Richard Ayoade
- Duração: 40 minutos
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Antes de maiores análises, um ponto: a Netflix irá lançar um curta-metragem por dia da semana dirigido por Wes Anderson, adaptado da obra de Roald Dahl. Isso faz sentido para alguém, ao invés de juntar todos e lançar como um longa em coletânea da obra do escritor? Parabéns para quem descobriu o sentido, em mim não chegou. Dito isso, estamos diante, em A Incrível História de Henry Sugar, de um típico material que converge a linha mestra dos dois autores, como já tínhamos visto no brilhante O Fantástico Senhor Raposo. Mas é bom também atentar para a genialidade de Anderson, em não ousar transformar o conto de Dahl em longa metragem, que provavelmente seria uma tentação óbvia; o que está em tela é suficiente para ser apreciado.
Nada está muito fora do lugar, do que conhecemos e acompanhamos Anderson, há mais de 20 anos. Se no recente (e estupendo) Asteroid City, o cineasta conseguiu mais uma vez dobrar sua cartilha particular a favor do que está contando – no caso, transportar uma obra teatral de maneira honesta para o espetáculo cinematográfico – aqui, o recurso, apesar de excelente, não apresenta novidades. É uma história no esquema “cebola”: uma narrativa, que sobrepõe uma narrativa, que sobrepõe uma narrativa, em algumas camadas. Com poucos atores em cena, e uma concisão métrica que não compromete a grandiosidade do esquema narrativo, A Incrível História de Henry Sugar é um novo encontro com essa filmografia, que em 40 minutos, é como um resumo do artista que conhecemos.
Isso é, ao mesmo tempo, uma excelente notícia e também uma notícia… que já lemos, se não necessariamente ruim. Ralph Fiennes conta a jornada de Benedict Cumberbatch, que conta a jornada de Ben Kingsley, que conta a jornada de Dev Patel – é basicamente isso. E que bom que é só isso, e isso está sendo transmitido para o espectador de maneira tão rápida, com economia de gestos. O que brilha, mais uma vez, é a coreografia da direção de arte, que não apenas se aplica aos contos curtos, como se sobrepõem uns aos outros. É um trabalho de maquinaria nada inovadora, mas cujo resultado visual é exatamente aquele que o narrativo evoca: uma fábula de espaço-tempo contínuo, que exerce seu poder ao desenvolver novas curvas em cima de falas anteriores.
Nesse sentido, o que A Incrível História de Henry Sugar apresenta é, mais uma vez e como em toda obra de Anderson, uma elegia à fabulação, e ao poder extraordinário de extravasar os limites orais. São interligações que sustentam o orador seguinte, e amarra o jogo do anterior, e expande os conceitos uns dos outros. No fundo, o que está sendo debatido, que é um conto rápido sobre honestidade extraordinária, não tem muito o que nos motivar, para além do que já constitui a obra do diretor. É um jogo rápido, como uma anedota visual de proporções pequeninas, em um esquema de arrebatamento instantâneo e pouco além. O suficiente para o fã manter suas moedas sendo atiradas na direção do diretor, e do detrator não se mover em sua decisão de continuar odiando-o.
Ainda assim, vale o movimento de acompanhar uma carreira tão demarcada em assinatura, realizando um exercício de remarcar seu estilo mais uma vez, e mais uma vez. Não há, para onde se olhe, qualquer registro que encontre A Incrível História de Henry Sugar em lugar mais ou menos apreciável que qualquer outra de suas obras, ou que nos marque como alguns títulos de sua filmografia. É uma brincadeira saudável e rápida, muito custosa acredita-se, mas possível em tempos de streamings que possam bancá-la. Ao espectador, cabe o maravilhamento de acompanhar uma dramaturgia enxuta de um homem que tem aplicado suas ideias em desdobramentos considerados demasiados. Aqui, nem ameaçamos cansar do que estamos vendo, e Anderson já partiu, com sua trupe de fabuladores especiais.
Um grande momento
Henry pressente um ataque cardíaco