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A Maldição de Bridge Hollow

Esqueceram da história

(The Curse of Bridge Hollow, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Jeff Wadlow
  • Roteiro: Todd Berger, Robert Rugan, John R. Morey
  • Elenco: Marlon Wayans, Priah Ferguson, Kelly Rowland, John Michael Higgins, Lauren Lapkus, Rob Riggle, Nia Vardalos, Abi Monterey, Holly J. Barrett, Myles Perez
  • Duração: 89 minutos

Se você está procurando algo familiar e ligeiramente divertido, pode ficar. Porém, se busca algo novo, A Maldição em Bridge Hollow vai decepcionar. Mesmo com sua premissa peculiar, com decorações de Halloween ganhando vida depois que um espírito maligno é libertado, o que se verá no longa de Jeff Wadlow, diretor também dos muito fracos Cry Wolf, Verdade ou Desafio e a adaptação recente de A Ilha da Fantasia, já foi visto muitas vezes.

Com roteiro de Todd Berger, Robert Rugan e John R. Morey, o filme é um grande mashup de filmes de terror bem-humorados voltados para o público infantojuvenis. Tudo é muito familiar – não no sentido de feito para a família, mas de “conheço isso de algum lugar” – , desde os personagens, a interação entre eles, até o desenvolvimento da trama. Lá estão, mais uma vez, a família que se muda para uma cidade menor em busca de segurança, a relação atribulada do pai superprotetor com a filha, o protagonista cético, o grupo de investigadores paranormais, a maldição quebrada sem querer e toda a sequência de eventos esperada para reverter a situação. 

A Maldição de Bridge Hollow
Frank Masi/Netflix

O que diferencia A Maldição em Bridge Hollow é mesmo o inusitado da possessão e as possibilidades de humor que ela proporciona, além de algumas soluções que deixam a impressão de que o filme poderia ser mais original e criativo. O modo como o roteiro resolve a exposição da história de Jack, o tão famoso Senhor Cabeça de Abóbora, e sua maldição, com uma empolgada e rápida interação com a prefeita vivida por Lauren Lapkus (A Missy Errada) e a ilustra com os desenhos tricotados num suéter daqueles bem estadunidenses, por exemplo, é muito boa. Normalmente, esse tipo de informação é dado ao espectador no prólogo do filme ou somente quando aquela figura aleatória surge do nada, para contar uma história do passado. Não que aqui não tenha uma passagem como essa mais para frente, mas houve esse lampejo de criatividade.

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Antigo símbolo mítico da região gaélica para afastar maus espíritos após a colheita, mas ainda com o nabo no lugar da abóbora, a história do clássico personagem do Halloween surge de lendas antigas sobre Jack, um homem manipulador com coração de pedra e mau-humorado, que ao ajudar um velho mendigo, na verdade um anjo, pode fazer três desejos. Estes eram tão mesquinhos, que o anjo o proíbe de entrar no céu. Jack também enganou o diabo duas vezes e foi amaldiçoado a vagar eternamente pela mundo, sem nunca poder entrar no céu ou no inferno. 

A Maldição de Bridge Hollow
Frank Masi/Netflix

A história ganha outro contorno com versões do conto de Washington Irving, “A Lenda da Caverna Adormecida” – que se tornou bem conhecida no mundo depois da adaptação para o cinema A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça –,  onde o tal cavaleiro por vezes aparecia com uma abóbora sobre os ombros. No longa, em mais um mix, a versão é a mais palatável, que, apesar de resgatar o nabo, se apega à figura do Cabeça de Abóbora, aproveitando traços que ficaram famosos do personagem seja na estética que está nos livros de L. Frank Baum e domina o feriado, ou nas referências que faz a outras representações, em especial ao Jack Esqueleto, o rei das abóboras da animação de Tim Burton, O Estranho Mundo de Jack.

Existe aí, ainda que remendado, um novo Jack, que poderia ser melhor aproveitado se o filme lembrasse de olhar para ele com mais carinho e atenção, mas em sua estrutura de recortes e chupadas – quando se aproveita de elementos prontos de outras produções – não consegue tempo nem espaço. E não é só o mostro que se ressente de atenção, falta a A Maldição em Bridge Hollow uma linha narrativa básica. É um longa com efeitos especiais interessantes, um elenco funcional e algum humor, mas falta estrutura e conjunto.

A Maldição de Bridge Hollow
Frank Masi/Netflix

Ao que se assiste, então, acaba caindo naquele lugar-comum de passatempo volátil, que consegue cumprir apenas parte de suas intenções. Protagonizado por Marlon Wayans, que, ainda que bom no drama, fez seu nome na comédia com filmes como Todo Mundo em Pânico e As Braquelas, o filme aposta as fichas no humor, em especial nas cenas de confronto com os enfeites enfeitiçado, e aí garante bons momentos. Quanto ao resto, parece estar ali para justificar essas passagens. Falta pouca atenção ao drama familiar, que se resolve magicamente; e a qualquer outra coisa que esteja pelo caminho, inclusive deixando muito evidente a perda de força do filme após certo tempo. 

A Maldição em Bridge Hollow não deixa de ser um filme divertido e nem vai fazer mal a ninguém, mas com toda a sua desconexão e sucessão de homenagens/referências/coincidências deixa muito a desejar.

Um grande momento
A história resumida no suéter

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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