- Gênero: Documentário
- Direção: Sinai Sganzerla
- Roteiro: Helena Ignez
- Duração: 81 minutos
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Não existe maior prova de amor por parte de um cineasta do que a entrega de seu filme a alguém. Sinai Sganzerla não apenas realiza um documentário sobre sua mãe, a lendária Helena Ignez, como o oferece generosamente a ela, permitindo que conte sua história em primeira pessoa e à sua maneira. Um adorável “Oi” é a primeira coisa que a atriz, diretora e roteirista fala e, sinceramente, não precisaria de mais para ganhar imediatamente o espectador.
O clima é de conversa, a narração é de diário e as perguntas que Ignez propõe e o filme não quebra a cabeça para responder – Quem é Helena Ignez? O que é suficiente para entender uma pessoa? – ressaltam a plena consciência da impossibilidade da compressão de uma força da natureza como tal mulher num produto audiovisual de pouco além de 70 minutos. Ou 70 mil minutos que fossem.
Isso não quer dizer que o documentário despreze informações biográficas padrão ou não relate a vida da atriz e sim que ele não se orienta por isso, estando a diretora mais focada em seguir os interesses de sua mãe do que recuperar detalhadamente passagens marcantes de sua trajetória ricamente documentada em imagens.
Como era de se esperar, tendo em vista a relevância da retratada e até mesmo a quantidade de fotos, viagens, personagens, transições e recomeços, o longa é volumoso, e a decisão pelo uso de músicas quase que ininterruptamente – com abundância de Erik Satie ainda por cima; antes fosse overdose de tropicália ou algum gênero vanguardista como a protagonista –, sem silêncio, sem ambiente, sem descanso, não favorece a experiência.
Irrestrito ao passado, o brilho da Mulher da Luz Própria aponta para o futuro e o filme acompanha Helena em andanças, projetos e desejos em progresso. Sem revelações ou reflexões técnicas a respeito de seu estilo personalíssimo de atuação, a filmografia é comentada pelo viés do afeto e do ativismo, e os amores famosos não atraem mais holofotes do que o estritamente necessário. Glauber enquanto parceria inicial desbravadora, Bressane importante virada de página, Sganzerla e o dueto definitivo, e principalmente as consequências de cada relacionamento na vida de Ignez.
Um corpo político feminino, a atriz traz em si não apenas a própria história, como a de sua terra. Da rejeição na sociedade baiana por ser artista desquitada à perda da guarda da filha, das dificuldades no exílio ao comentário sobre a participação dos Estados Unidos no golpe militar de 1964 em frente ao muro escrito “Lula Livre”, Helena sempre foi e segue sendo ação e reação, o que o presente de filha para mãe registra muito bem.
Um Grande Momento:
Sônia Silk