- Gênero: Documentário
- Direção: Ellen Morais
- Roteiro: Ellen Morais
- Duração: 15 minutos
-
Veja online:
No sertão paraibano, o curta A Nave Que Nunca Pousa fala do que não aterrissa, mas incomoda. Ellen Morais constrói um terreno quase ficcional nas terras de Serra do Talhado, onde uma presença aérea – metafórica e literal – expõe os impactos visíveis e invisíveis da chegada de usinas eólicas à já conhecida comunidade quilombola. Em apenas 15 minutos, o filme ultrapassa os limites do documentário convencional e se torna uma ficção científica social, jogando luz sobre tensões históricas e ambientais.
A narrativa híbrida mergulha no real e no imaginado. Entre performances místicas, moradores falam do passado e dos desdobramentos da implantação das turbinas eólicas, ao mesmo tempo em que insinuações audiovisuais da aproximação de uma “nave” criam um clima de estranhamento. O elo com o clássico Aruanda de Linduarte Noronha está não só na locação compartilhada, mas em como o curta de Morais busca a memória e imagina o futuro de uma comunidade retratada há décadas e que agora sofre as consequências de um progresso vazio. Pensando na possibilidade de reinvenção e ressignificação de antigos registros, o diálogo entre o passado e o presente dá ao curta uma outra camada de força histórica e estética.
O resultado é uma metáfora potente. A tal “nave” nunca pousa, mas seu efeito é devastador, deixa terra ferida, casas alteradas e um modo de viver em choque. Essa instalação de tecnologia limpa, apresentada muitas vezes como progresso, traz a todo o ecossistema de um local ruptura, desbalanceamento e medo. O curta encontra a intimidade para que os moradores demonstrem o impacto cotidiano perturbador, que vai além do físico.
Visualmente, o filme casa o registro documental com momentos quase etéreos, onde planos fixos se alternam com sequências que aludem ao voo ou à presença alienígena, reforçando esteticamente a coexistência entre o real e o simbólico. O som recria uma tensão de angústia e espera que impregna A Nave que Nunca Pousa. Não há ostentação, mas há presença. Do som do vento ao som da turbina, a edição compacta, assertiva, intensifica cada detalhe. A ficção científica aqui não suscita suspensão, mas reflexão.
Um grande momento
Tirando o protetor