Crítica | Catálogo

A Noite do Dia 12

Um mundo para homens

( La nuit du 12, FRA/BEL, 2022)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Dominik Moll
  • Roteiro: Gilles Marchand, Dominik Moll
  • Elenco: Bastien Bouillon, Bouli Lanners, Théo Cholbi, Johann Dionnet, Thibaut Evrard, Julien Frison, Paul Jeanson, Mouna Soualem, Pauline Serieys
  • Duração: 115 minutos

Ela morreu porque era uma mulher.

A Noite do Dia 12 é um filme duro, perturbador. Ainda mais para os homens. Quando Clara se despede das amigas, sai caminhando sozinha pela noite e é brutalmente assassinada, se torna mais uma vítima de uma sociedade que diferencia, sim, gênero; que menospreza a existência, os desejos, a liberdade, e o próprio direito à vida das mulheres. Se todas estão sujeitas a isso, o diretor Dominik Moll, que também assina o roteiro com Gilles Marchand, ao construir sua inconclusiva e sufocante investigação, mostra que, na realidade de uma estrutura patriarcal, todos os homens podem ser os algozes.

A relação com o caso e o envolvimento do recém-nomeado capitão Yohan Vivès são a espinha dorsal da trama e demonstram a fricção entre dois universos que se chocam no que já está estabelecido: o deles e o delas. Além de não superar a investigação que o leva a um emaranhado de pistas e depoimentos incriminadores que não chegam a lugar nenhum, o policial vai se desestruturando aos poucos, caminhando passo a passo para dentro de si mesmo e da constatação da própria incapacidade de apreensão.

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Não que seja um longa hostil com todos, ele demonstra a todo tempo que as tentativas de mudança e conscientização são reais e efetivas, em especial por parte da corporação e nas figuras de Yohan e seu parceiro mais próximo Marceau, mas o que se retrata é a vida, o cotidiano de um ambiente extremamente masculino e não há como fugir da realidade. Moll está sempre próximo a esses homens e a seu protagonista. O diretor faz questão de falar do todo, de uma polícia em frangalhos, da delegacia com aparelhos quebrados, dos turnos excessivos, mas coloca sua câmera como se ali também estivesse assumindo um papel de escuta e entendimento, pelo choque, embora nada, a não ser a consciência do macho, tenha chegado de repente no que diz respeito à violência de gênero.

A Noite do Dia 12
Divulgação

Cenas que trazem diálogos óbvios, como a da lanchonete, são cruéis por sua repetição constante fora da tela, pela conhecida falta de respeito pela vítima e pela recorrente culpabilização da mulher. Independentemente de quem seja, da idade que tenha e de onde mora. A Noite do Dia 12 bifurca-se nas angústias de uma investigação sem solução e da falibilidade de uma estrutura nociva e opressora que toma conta de todos. 

Para além da identificação, imediata para as espectadoras do sexo feminino – que sentem especial angústia com a cena da volta de Clara para casa, pois não há nada mais amedrontador do estar sozinha na rua à noite –, Bastien Bouillon (Uma Mulher no Mar) personaliza a inquietude com o policial Yohan. Ele tem que lidar com pequenos problemas de um gestor enquanto é atormentado pelo peso de uma culpa que é de todos. A vítima, mais uma na estatística, na configuração pavorosa que cerca aquele feminicídio, é um símbolo da busca desesperada por alguma reparação que nunca chega e uma igualdade ainda utópica.

Um grande momento
A conversa com Stéphanie

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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