Crítica | Catálogo

A Primeira Comunhão

Fantasma mofado

(La niña de la comunión, ESP, 2022)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Victor Garcia
  • Roteiro: Guillem Clua, Víctor Garcia, Alberto Marini
  • Elenco: Carla Campra, Aina Quiñones, Marc Soler, Carlos Oviedo, Olimpia Roch, Xavi Lite, Victor Solé, Maria Mollins, Anna Alarcon, Sara Roch
  • Duração: 95 minutos

Há alguns meses, a Paris Filmes não sabe muito bem o que fazer com A Primeira Comunhão, programando e desprogramando ele do campo das estreias. Agora, enfim, chega aos cinemas essa produção espanhola, e conseguimos então compreender os motivos da indecisão. A resposta mais óbvia não é a mais acertada, porque não há nada aqui que possa ser classificado como uma experiência desastrosa, mas também o que o diferencia de qualquer outra coisa já lançada do gênero? Texto após texto, eu comento sobre como o circuito nacional absorve de graça o horror como gênero, de maneira ampla, sem muitas exigências. Pois é exclusivamente esse o motivo dessa estreia, porque ao procurar o que o tornaria especial, não encontramos absolutamente nada. 

Veja a trama: um grupo de jovens, depois de um acidente leve de carro onde um vulto foi visto correndo pela estrada, passa a ser assombrado por uma criança vestida para sua primeira comunhão, porém deformada. Obviamente essa criança quer algo, e não apenas matar cada um deles – embora isso também esteja em seus planos. Demora para que eles entendam que precisam se comunicar com ela para tentar entender o que gerou sua aparição, e como fazer para se livrar da tal maldição. Ou seja, já assistimos a variações dessa ideia com poucas chances de formulação diferenciada, e aqui “o barato” (se é que isso é um) é que, além de ambientado na Espanha, o filme corre pelos anos 1990. Só isso. 

A Primeira Comunhão
Divulgação

Victor Garcia, seu diretor e um dos roteiristas, é um especialista em uma modalidade bem infame: ele dirigiu inúmeras continuações ordinárias de filmes de terror de sucesso, daquelas que tentam aproveitar a carona de algo que deu certo, mas acabavam há 10 anos atrás na prateleira de uma videolocadora. De Volta à Casa da Colina, Espelhos do Medo 2, Hellraiser: Revelações, uma série derivada de 30 Dias de Noite… ou seja, imaginação nunca foi seu forte. Com o fim das videolocadoras e com o streaming cada vez mais competitivo, Garcia deve ter tido de mudar seu repertório. Mas isso só até a página 5, já que A Primeira Comunhão é um arremedo não apenas de um, dois, ou dez filmes já vistos, é pior que isso: o filme tem um espírito velho, nada convidativo, simplesmente sem graça. 

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A Primeira Comunhão não tem personagens sedutores o suficiente, nem tem um grande trabalho de direção, que promovam algo de diferente na realização. É um filme ancorado em ‘jump scares’ sem qualquer motivação maior por trás disso, e na manutenção reiterativa desse hábito vazio. Não existe também um desenvolvimento de mistério que nos forneça um maior envolvimento com o que estamos assistindo, em resumo, existe pouca sedução por trás do filme. Dentro da lógica do gênero, Garcia não tenta sair de uma zona de conforto que só denuncia as limitações de seu produto, que parece ter sido concebido por algum robô de inteligência artificial. Em uma época e dentro de um gênero onde é oferecido produtos novos a todo instante, esse é um problema crucial. 

A Primeira Comunhão
Divulgação

Por fora do campo do fantástico, também ali as seis mãos roteiristas fornecem apenas obviedades. A jovem que anseia liberdade e é tolhida pelos pais, sua melhor amiga que tem essa liberdade, mas enfrentando um pai alcoólatra que a agride, a dupla de desajustados que tem bom coração – e inclusive um deles será redimido pelo amor – e por aí vai. São linhas e mais linhas de clichês fajutos, sem nenhuma atualidade ou charme, que resultam em A Primeira Comunhão, um desses filmes esquecidos em uma prateleira do passado. Exatamente como o período onde está inserido, talvez em 1990 o filme ainda fosse algo interessante; hoje, vemos cada cena nova não nos levar a lugar algum. E o máximo da ousadia é dotar seu desfecho de um campo aberto a interpretações; nesse momento, eu ri.

Um grande momento

O abraço no poço

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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