É interessante a relação que a gente estabelece com o cinema. Além de um filme significar coisas muito diferentes para cada pessoa que o assiste – algo construído tendo em vista experiências, traumas, ideologias, cenas e por aí vai – ele também dá poder criador que vai além daquilo que mostra. A Vida Continua não seria muita coisa além de um comercial de bateria se não fosse justamente por isto.
Em seus dois minutos de duração, o curta-metragem é bastante pontual. Do cortador de grama automatizado corta para a situação inesperada com um eletrodoméstico. Assim abre toda uma realidade mostrada sem nenhuma obviedade. A falta de diálogos ou qualquer outra informação entrega o filme ao espectador. Ele pode criar o que bem entender depois daquilo que está claro.
Todos estão na mesma situação? Quanto tempo isso vai ser manter? É possível, inclusive, chegar a questões interessantes como o abismo de classes, algo que talvez não faça sentido na Noruega, país do filme, mas que funciona para outras muitas realidades do mundo. A Vida Continua se constrói em cima da experiência dos outros.
Ao mesmo tempo em que alguém identifica aquele espaço e tudo tem, no sentido mais capitalista possível, outros vão questionar se aquilo é mesmo possível, é algo que pode ir além do “já ouvi falar”. E o final, todos sabemos: não tem tecnologia ou bateria de longa duração que possa mudar. E Henry K. Norvalls coloca isso tudo ou outra coisa completamente disso num filme de apenas 2 minutos, mas que pode ficar muito tempo sendo elocubrado por quem o assiste.
Um grande momento
A luz acende.