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Adeus ao Cinearte

É sempre triste ver um cinema de rua fechar suas portas. Hoje (19), será o último dia de funcionamento do Cinearte. Localizado no coração da Avenida Paulista, dentro da galeria Conjunto Nacional, o espaço é mais um que não sobrevive ao corte de verbas orquestrado pelo atual governo de Jair Bolsonaro contra a cultura.

O cinema tem uma longa história. Fundando em 1963, com o nome de Cine Rio, passou por um fechamento de 1978 a 1982, quanto reabriu com o nome que usa hoje. No final dos anos 1990 passou a ser administrado por Adhemar Oliveira e passou por diversos patrocínios, assumindo vários nomes como Cine Livraria Cultura, Cine Bombril e, por último, Cine Petrobrás, quando Bolsonaro mandou o governo desautorizou o patrocínio.

Adhemar manteve o quanto pode o cinema em funcionamento, sob o nome de Cinearte, até que anunciou o fim das atividades. A última sessão da Sala 1 será hoje, com o filme vencedor do Oscar, Parasita.

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Foto: Divulgação

Uma perda pessoal

Particularmente, a perda do Cinearte é doída por ser um cinema tão presente na minha vida, tanto pelas muitas sessões vistas enquanto morava em São Paulo quanto pela presença frequente há muitos anos na Mostra de São Paulo. De localização privilegiada, perto do metrô, entre os cinemas do Espaço Itaú (tanto dos da Augusta como os do Frei Caneca), o Belas Artes e o Cine Sesc, era sempre um encaixe perfeito para sessões.

Nos últimos tempos, recebeu os críticos para as cabines de imprensa e frequentemente acabava sendo o local das primeiras sessões também. Próximo da Central da Mostra, tornava tudo mais fácil. Nas telas do Cinearte assisti a filmes de vários lugares do mundo, conheci filmes que nunca pensei conhecer e vivi experiências que jamais julguei serem possíveis.

Lembro de sair perturbada da sessão de Anticristo e não lembrar para que lado ficava a minha casa, do meu deslumbramento ao ver Cães Errantes e de como aquele filme ficou comigo por tanto tempo, entre tantas outras experiências. Minha última vez no Cinearte foi uma sessão dupla, com dois filmes completamente diferente, um que me marcou profundamente, o galego O que arde, e o argentino A Odisseia dos Tontos, que sumiu logo depois que foi visto.

É triste perder mais um espaço, ver o desmonte acontecendo e parte da população ainda não perceber o que realmente está acontecendo. Quando se mata a cultura, se esfacela o povo. Quando brigamos por ela, estamos brigando por todos nós!

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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