- Gênero: Suspense
- Direção: Roly Santos
- Roteiro: Oscar Tabernise
- Elenco: Roberto Birindelli, Mayana Neiva, Leona Cavalli, Allana Lopes, Daniel Valenzuela, Juan Manuel Tellategui, Nestor Nuñez, Helio Cicero, Luiz Guilherme, Mario Jose Paz
- Duração: 113 minutos
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Roly Santos é um cineasta argentino que não tem necessariamente muita experiência na direção. São 9 obras, entre longas de ficção, documentários, curtas e séries longas, em 36 anos de carreira. Águas Selvagens, sua segunda obra de ficção em longa, é uma co-produção Brasil-Argentina, adaptado de um romance e com um tratamento crescente para o suspense, ambientado na região da Tríplice Fronteira, um espaço que consiste tanto serra quanto rio. Apesar de não ter conferido obras anteriores de Santos, convém apontar essa falta de experiência pelo que vemos em tela, uma produção que tenta se aproximar de muitos temas “relevantes” – muitos deles com desdobramento feminino em destaque – mas que, narrativamente, não consegue desenvolver com consistência nenhum deles, deixando à deriva alguns desses motes.
As intenções podem ter sido as melhores ao abordar machismo, violência contra a mulher, tráfico de crianças, misoginia, prostituição na adolescência, pedofilia (e deve estar me faltando mais uns três ou quatro temas), mas o excesso de questões não faz bem ao filme, empelotando o roteiro. Nada parece muito à vontade, e a maior parte das coisas não soam naturais, quase como se tivessem sido enfiadas a fórceps na estrutura geral. Muitas vezes não se comunicam e parecem tomos avulsos de muitas produções diferentes, que acabam compondo um painel de desmedida bandidagem e falta de caráter generalizada. Se seus elementos ao menos fossem organizados, não teria problema de empilhar temas; o fato de que essa solução não soa crível é o motivo pelo qual se observa a receita desandar.
Além de não conseguir desenvolver todo arsenal de possibilidades a que se propõe, Santos não tem controle sobre o que tem a sua disposição, talvez aí também se encontre uma certa desorganização estética. Pensando no fato de que atravessou mais de três décadas realizando audiovisual, chama a atenção o quanto sua direção não parece atingir o mínimo esteticamente falando para criar personalidade. Águas Selvagens em nenhum momento parece o trabalho de um profissional que se encontra há tanto tempo no mercado, mas sim de um jovem recém iniciado no espaço de trabalho. A estrutura cênica da produção é toda mal ensaiada, nunca parecendo que há um propósito por trás daquelas marcações. O elenco não parece à vontade, e isso não se restringe às suas posturas, mas em como eles manejam seu movimento uns com os outros e com o espaço físico que ocupam.
O trabalho de montagem do filme é problemático, levando em consideração o tanto que sobra em alguns momentos e o tanto que falta em outros. As cenas nunca parecem ter a duração e o corte ideal, deixando o filme com um ar ainda mais artificial, um trabalho sem o capricho que uma produção cinematográfica deveria ter. Ainda que a edição de som tantas vezes deixe a desejar, com problemas audíveis com clareza, esse aspecto sonoro só denuncia ainda mais o trabalho de edição como um todo. Sem ritmo definido, apenas parecendo um trabalho de primeiro corte e ainda incompleto, o que vai à tela é uma versão sem retoques, como se fosse a matéria bruta de um filme. Enquanto avança e percebemos que sua resolução é ainda mais falha, cria-se uma ideia de problemas generalizados em um filme cuja intenção parece passar ao largo do resultado final.
Não há qualquer sutileza no resultado do que é apresentado, a tal ponto de que tudo começa a soar como histeria, mesmo que nada no filme esteja agudo particularmente. Na verdade, trata-se de um grupo de fatores que implicam nesse resultado, da trilha sonora onipresente e muito repetitiva a fotografia de textura teledramatúrgica, resultando em uma produção recheada de equívocos, para onde se olhe. Não há sequer leveza no que é filmado, sempre dando a impressão de que estamos diante de algo vulgar e barato, além de vazio de propósitos. Todas as ações se sobressaem como repentinas ou despropositadas, dando contornos cada vez menos seguros à ação ou a seus personagens, que em nenhum momento soam como algo diferente de teleguiados – por uma produção que mira em muitos alvos e não acerta sequer uma mira.
Quanto ao elenco, nem o grupo tenta acertar, muito menos recebe suporte dramático para que suas presenças gerem qualquer brilho. Roberto Birindelli, em raro trabalho como protagonista, tenta segurar uma barra pesada ao limpar os vestígios machistas com seu personagem. A jovem Allana Lopes é a que chega mais perto de mostrar serviço, onde ao menos se entrega com gosto. Todo o resto segue a cartilha escrita por Águas Selvagens, um filme que naufraga na frente do espectador junto com seus plot twists e seu melodrama exacerbado, sem qualquer razão de ser.
Um grande momento
Não tem
Humm assistimos diferente filme caro Francisco, Aguas Selvagens tem ritmo incrível, ninguém se levanta e sai do cinema. Não voo uma mosca. Gostei de mais na verdade. por uma vez, nós discordamos, mas você está perdoado.