Crítica | Outras metragens

Ala la High

O que é de todos

(Ala la, ISR, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Yael Arad Zafrir
  • Roteiro: Efrat Arnon, Yael Arad Zafrir
  • Elenco: Efrat Arnon, Nadav Asulin, Muli Shulman, Irit Natan Benedek, Abdallah Abu Allan
  • Duração: 20 minutos

Chega um certo momento da vida a dois em que o casal não tem mais o mesmo entusiasmo, por mais que se busque a paixão do começo do relacionamento, aquela chama não existe mais. O amor e a cumplicidade ainda estão lá, assim como todas as preocupações do dia a dia. Boa parte do fogo, assim como em toda relação que dura muito tempo, está mais ou menos. O curta Ala la High escolhe um casal que arrumou um jeito de fugir disto para falar sobre o tema. A ótima primeira cena demonstra justamente o desacerto entre um passado distante de experiências e tesão, e o presente desgastado pelo cotidiano, com a montanha de preocupações que vêm com os anos, filhos, sogras e todas essas coisas.

Depois de fugir da realidade de um jeito sintético por um bom tempo, o que, diga-se de passagem, deu uma sobrevida a tudo, a dupla resolve experimentar a realidade. Mas do que demonstrar a vida a dois, o filme também busca explorar não só esse compromisso de ambos com a empreitada, mas a individualidade dos personagens e o peso da sobriedade em cada um deles. É divertido acompanhar as reações dos dois frente aquilo que é tão trivial e natural. A diretora Yael Arad Zafrir deixa tudo mais intrigante por trazer muito do desejo e da tentação para perto de seus personagens.

Ala la High mantém a intenção de quebrar as expectativas e, no hotel em que a esposa e o marido se hospedam, em meio a desértica vegetação de Israel, tudo existe para dificultar a tentativa do casal. Desde a primeira interação com o tecno, que toma conta do ambiente, e vem logo ali da potente caixa de som portátil do outro hóspede, ou de uma simples tentativa de pegar um isqueiro emprestado, a ideia é fazê-los cair em tentação. Isso sem falar que as menções ao khat e MD já tinham chegado muito antes disso.

Apoie o Cenas

Com roteiro irônico da própria diretora e de Efrat Arnon (que dá vida à protagonista), é interessante o modo como o filme trata a questão do desgaste que vem com a rotina, e como trata o artificial sem apelar para o explícito. Ela insere elementos a cada nova possível interação com drogas e se joga, ou melhor seria dizer nos joga, numa divertida representação de viagem alucinógena, algo que já vimos tanto por aí, mas aqui tem algo de diferente. Sem se demorar, ali estão a paranoia, euforia e a frustração. Da mesma maneira, o jeito que Ala la High traz o espelhamento com uma realidade compulsoriamente abandonada, na imagem dos vizinhos diverte.

Sem dúvida, Ala la High aborda de maneira inusitada algo comum e banal e, só de não ser óbvio, já se destaca. A identificação está ali na possibilidade de fuga ou na ligação atrapalhada para casa; nos pequenos esquecimentos e na diversão efêmera com hentais, coisas que podem estar todas juntas ou isoladas na vida de muitos casais. Assim, os dois viram os vizinhos dos que assistem ao curta, assim como os chapados ali do lado são os deles. Não há muito como fugir disso, e nem como não se divertir. 

Um grande momento
Madonna

[19º HollyShorts Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
Assinar
Notificar
guest

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver comentário
Botão Voltar ao topo