- Gênero: Ficção
- Direção: André Hayato Saito
- Roteiro: André Hayato Saito, Luigi Madormo, Tatiana Wan
- Elenco: Melissa Uehara, Ricardo Oshiro, Carolina Hamanaka, Kazue Akisue, Pedro Botine, Joana Amaral, Lorena Castro
- Duração: 15 minutos
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O futebol sempre foi símbolo de pertencimento no Brasil. Em Amarela, de André Hayato Saito, a final da Copa de 1998 serve de pano de fundo para um outro tipo de confronto: o de uma jovem que não sabe onde se enraizar. Erika, adolescente nipo-brasileira, rejeita os rituais familiares e busca escapar deles, mas logo descobre que o que a machuca não está apenas de dentro de casa, está também no mundo que a cerca, um mundo que insiste em lembrá-la de sua condição de estrangeira em seu próprio país.
A escolha da data não é gratuita. Enquanto o país inteiro se volta para o espetáculo do futebol, Erika se depara com um isolamento que não encontra eco na festa coletiva. O verde e amarelo das ruas não lhe diz respeito, tampouco o vermelho e branco das tradições herdadas. O que sobra é um não lugar, uma identidade em suspenso que a empurra para um mar de emoções dolorosas.
O filme expõe a fratura geracional de forma precisa. A recusa da protagonista às tradições japonesas não significa apenas rebeldia adolescente, mas uma tentativa de encarar de forma diferente uma herança que, ao mesmo tempo, a marca e a exclui. O gesto de afastamento revela um desejo de ser outra, mas a violência sofrida demonstra como a sociedade brasileira sempre a tratará. A identidade, portanto, não é escolha livre, é campo de disputa.
Saito filma essa tensão com delicadeza e contundência. Os espaços fechados e os silêncios contrastam com o barulho do país em festa, e cada detalhe estético reforça o choque entre a celebração coletiva e a dor íntima. O corpo de Erika, enquadrado entre portas e corredores, transmite o peso de carregar duas culturas sem poder pertencer inteiramente a nenhuma delas.
O que Amarela revela é que o pertencimento, muitas vezes, nasce da contradição. A busca pela identidade não é um caminho linear, mas um embate entre herança e rejeição, entre memória e recusa. Em espaço e tempo específicos, Erika encarna essa ferida aberta de uma geração de descendentes que, pensando em aceitação, ao mesmo tempo em que não sabem como lidar com suas origens, descobrem que delas jamais poderão se livrar.
Um grande momento
Sozinha


