(Amiga do Inimigo, Brasil, 2020)
Era uma vez um fenômeno da Internet. Viih Tube, ou Vitória Moraes, começou adolescente com seu próprio canal no YouTube e, antes dos outros, começou a investir em produtos seriados voltados ao púbico teen. Assim criou Em Prova, websérie com mais de 90 milhões de visualizações e que acabou virando o filme Amiga do Inimigo, lançado pela Netflix e já sucesso na plataforma.
Viih retorna ao papel de Bia e a história, ao internato Nosso Recanto. A trama gira em torno de um perfil anônimo que espalha fofocas e segredos de todos os alunos. A missão da presidente de classe é descobrir quem é a pessoa por trás da conta e trazer o seu irmão, expulso da escola tempos atrás, de volta. Sim, eu não pulei nada, são duas coisas aleatórias, tramas desconexas, que o roteiro força para que se encontrem. Há uma certa ingenuidade nisso, aliás, essa bonomia é uma marca de toda a produção. É uma típica trama de colégio, cheia de adolescentes com os hormônios à flor da pele, paquera, paixão, rupturas e experimentações.
Embora tente fugir da estereotipização do colegial, acaba apostando em figuras chaves de filmes similares: o gago, a menina boazinha, o cara do bullying e a patricinha estão lá, como sempre. A maneira como o enredo se desenvolve também não é das mais originais e vem contaminada com a abordagem tola. Neste quesito, há personagens bem complicados, como, por exemplo, a jornalista. Por que uma pauta sobre um adolescente espalhando segredos dos colegas interessaria a alguém de fora?
Mas, mesmo com todas essas questões, Amiga do Inimigo tem um apelo óbvio com o público juvenil. Primeiro pela identificação e depois pela forma como a história é contada, com muitas idas e vindas, o grafismo que remete às novas tecnologias e a própria investigação. Ponto para o filme, se ele conseguisse ficar só aí, mas as muitas voltas fazem a trama se direcionar para a impossibilidade de solução.
Além de não ter o que fazer depois da descoberta do Anônimo do Recanto – ressalte-se que estamos falando de um longa- metragem – o roteiro ainda tem que arrumar um jeito de enfiar o irmão (aquele que não tem nada a ver com nada) na história. Ter conteúdo e estofo para 1h30 de filme não é simples e, talvez por isso, tantas sejam as idas e vindas e os personagens surpresa, não que eles resolvam o problema.
Para complicar ainda mais, chegamos à gravíssima questão ética. Entre planos de um e de outro, o filme não só brinca com a bissexualidade por interesse como se resolve da maneira mais reprovável possível. É como se a mentira e a chantagem pudessem ser, de alguma maneira, aceitáveis e merecem propaganda. Quando se pensa em qual é o público-alvo de Amiga do Inimigo, isso assume uma proporção muito maior. Ainda que tenha surgido com boas intenções, o cuidado é sempre fundamental. Ao contrário, o filme é bem leviano.
Um grande momento
Na festa, expectativa x realidade.