- Gênero: Comédia
- Direção: Dennis Dugan
- Roteiro: Eileen Conn, Dennis Dugan, Larry Miller
- Elenco: Maggie Grace, Todd Stashwick, Diane Keaton, Jeremy Irons, Diego Boneta, Andrew Bachelor, Jesse McCartney, Chandra West, Dennis Dugan, Veronica Ferres, Richard Kline
- Duração: 96 minutos
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Qual é o mote de grande parte das comédias românticas? Que “O amor vai prevalecer porque o personagem principal está disposto a mudar pela pessoa que ama, e para provar isso vai realizar um grande gesto de amor”. Um dos papas do roteiro e estudado ao redor do globo por aqueles que perseguem a carreira de roteiristas, Robert McKee ensina que ideia governante é a resposta à pergunta central que se faz: o que é o filme. Na correlação entre causa e efeito, essa resposta que vem na forma de uma frase ou sentença clara e concisa vai expressar qual é a mudança que o desenvolvimento da história em questão traz para o mundo e qual foi a força que possibilitou a mudança em si.
Tratando do gênero que faz gente chorar e suspirar na mesma medida, se o amor prevalece apesar dos pesares e essa força é expressada através de uma ação, no clímax, que faz tudo ficar bem entre o par central, a fórmula é que o valor (amor prevalecer) mais a causa (o protagonista que está disposto a fazer de tudo por quem ama) deveria ser infalível em fazer os espectadores se encantarem né? Em Amor, Casamento e Outros Desastres ela até está lá, mas o resultado simplesmente não bate.
Talvez seja porque para escrever e dirigir comédias românticas tem que se saber aplicar as regras do gênero com talento, noção e também senso de ridículo. Nora Ephron sabia disso desde quando escrevia colunas na Esquire nos anos 70, que também eram sobre relacionamentos. Trazendo a sua bagagem emocional e uma reinvenção dos próprios padrões do gênero, seus roteiros trouxeram frescor e inteligência para a indústria, Meg Ryan deve sua carreira às personagens que acreditavam no amor, mas não achavam certo se despersonalizarem nesse processo de aceitar o par ideal.
E lá do outro lado do atlântico, Richard Curtis escrevia clássicos modernos como Quatro Casamentos e um Funeral sobre desencontros românticos e acenava para a possibilidade de que pessoas absolutamente imperfeitas (mesmo que Hugh Grant sempre tenha feito parte do padrão de beleza, ele representou essa faceta na década de 1990) poderiam não só se apaixonar como achar meios de superar as diferenças e permanecer juntas. Estes dois, grandes roteiristas que estabeleceram um patamar de excelência, automaticamente são lembrados quando se pensa em comédias românticas ou em filmes que apenas são excepcionalmente bons, repletos de afeto e de esperança.
Amor, Casamento e Outros Desastres erra feio e rude desde o seu material de divulgação… o cartaz segue o padrão esteticamente ofensivo de unir os rostos dos principais nomes do elenco em uma formatação de álbum de família, com a imagem (provavelmente importada de um banco de imagens) de um bolo de casamento com os bonecos de noivo e noivas caídos e parcialmente esmagado). O desastre segue com a tagline, um conceito de roteiro que funciona como uma espécie de lema da história ou frase de efeito, que vem impresso no malfadado cartaz e é o trocadilho “um par feito na loucura”, ou seja…
E olha que loirinha de Lost e o galã mexicano de Rebelde estão lá para ter apelo com o público contemporâneo e pop como um casal insosso que é de longe o mais desinteressante — até a ridícula e batida fórmula do bobalhão com a stripper russa é menos horrenda de se assistir. Donos de um charme que não tem prazo de validade, a eterna Annie Hall e o intérprete de Claus Von Bullow no cinema tornam a experiência um pouco suportável. Se ao invés de uma trama multiplot com vários atores ruins e personagens inexistentes a opção de Amor, Casamento e Outros Desastres fosse focar na história sobre amor e recomeços para quem está na casa dos 70, quem sabe existiria salvação para esse verdadeiro desastre cinematográfico.
Mas a falta de humor e de talento que é peculiar ao veterano Dennis Dugan — famoso pela parceria com Adam Sandler em pérolas como Um Maluco no Golfe e Gente Grande — produz sequências dignas de constrangimento por serem tecnicamente falhas, como quando os músicos de rua estão se apresentando no parque e os match cuts simplesmente não montam, ou as transições entre cenas, passando do segmento de um personagem que cruza o de outro. Tão cafona que em determinado momento é possível achar que se trata do Leblon e de alguma novela da Rede Globo, não uma história que se passa em Boston.
Dugan entrega ao final uma produção desconjuntada, sem alma nem romance no ar. Porém, não fosse tamanha a mediocridade na condução, esse Amor, Casamento e Outros Desastres até que tinha tudo para ser uma cópia pálida de Simplesmente Amor ou Mensagem para Você – pena que é um desperdício acintoso enquanto filme, como tantos outros milhares de produtos descartáveis que Hollywood empurra goela abaixo ano a ano.
Um grande momento
Escada rolante para cegos