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Amor Maldito

(Amor Maldito, BRA, 1984)
Drama
Direção: Adélia Sampaio
Elenco: Wilma Dias, Monique Lafond, Emiliano Queiroz, Neuza Amaral, Sérgio Ascoly, Jalusa Barcelos, Catalina Bonakie, Octacílio Coutinho, Isolda Cresta, Tony Ferreira, Maria Letícia, Julia Miranda, Nildo Parente
Roteiro: José Louzeiro, Adélia Sampaio
Duração: 76 min.
Nota: 4 ★★★★☆☆☆☆☆☆

É interessante pensar como o título composto por duas palavras reativas, ambas ligadas a sentimentos fortes e ainda mais pesadas quando usadas em conjunto, é predominantemente abalizado por motivos históricos. Pudera, foi apenas em 1984 que uma diretora negra conseguiu lançar um longa-metragem no Brasil… Rejeitado pela Embrafilme; divulgado como pornográfico; uma trama que gira em torno do relacionamento homoafetivo de duas mulheres; “esquecido” por bastante tempo. História, tabus e um marco inegável que merece ser rememorado e valorizado como tal.

Olhar para Amor Maldito passados trinta e cinco anos de seu lançamento e com consciência de suas particularidades revela-se uma experiência causadora de impressões inconstantes, em que ideias bem progressistas são sucedidas por cenas de exploração do corpo feminino e certas decisões técnicas e artísticas acabam por tirar força do drama, em verdade um filme de tribunal.

Com roteiro de José Louzeiro e argumento da própria Adélia baseado em fatos reais ocorridos no Rio de Janeiro, o longa acompanha o julgamento de Fernanda (Monique Lafond), acusada do assassinato de Sueli (Wilma Dias). Logo de início o público é apresentado à falecida como uma simpática jovem miss aspirante ao estrelado – nos moldes da fama real de Wilma Dias, conhecida pela participação na abertura do humorístico Planeta dos Homens –, numa estética televisiva de baixa qualidade que desemboca no registro do ensanguentado corpo da moça (ainda respirando) estendido no chão pós-suicídio. É sabido, portanto, que Fernanda é inocente e, testemunhando seu sofrimento, o espectador vai tomando ciência dos acontecimentos que contribuíram para o trágico fim da modelo.

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O vilão é o patriarcado, a mocinha é a lésbica que ousa prescindir do homem, e a vítima é a sonhadora que arriscou os dois caminhos. Amor Maldito não é nem de longe um romance (inclusive porque constrói muito precariamente a complexa relação entre Sueli e Fernanda) e representa de forma bastante dura a paixão, encontrando-a apenas na solidão, na dor e no irremediável. A felicidade feminina é um ideal distante demais na sociedade em que pela simples justiça e independência muita luta se faz necessária. This is a man’s world e o filme é engajado mais do que tudo no desmascaramento das figuras masculinas.

Não há sutileza de modo geral e menos ainda nas tintas usadas para “pintar” os teatros dos bacharéis em Direito e dos crentes, representados pelas histriônicas figuras do pai pastor abusador e do advogado de acusação assediador. O pavor surge da performance caricatural que carrega discursos completamente verossímeis (retirados dos autos do processo verdadeiro) e comuns até hoje.

“Ninguém é santo, porém os mais fervorosos defensores da família, da religião, da moral, dos bons costumes, das meninas e da justiça são o completo oposto disso” é uma mensagem ainda relevante que Amor Maldito consegue fixar, apesar da trilha sonora desmedida e destoante, da montagem nada fluida, dos diálogos truncados e das sequências “sensuais” de gosto extremamente duvidoso em que apenas Wilma Dias tem o corpo exposto. Por outro lado, há de se destacar especialmente o jogo de ângulos dos enquadramentos no tribunal, com variados pontos de vista e personagens discursando diretamente para a câmera.

Ainda que no caso aparentemente unilateral, o amor amaldiçoado pelos homens é o único presente, o que não julga, o que se sobressai de forma mais positiva na salada cinematográfica oitentista, o que resiste. Os inimigos ainda são os mesmos e as mulheres negras ainda não conseguem lançar longas nacionalmente.

Um Grande Momento:
“Sou assumida”.

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[III Mostra Sesc de Cinema]

Taiani Mendes

Crítica de cinema, escritora, poeta de quinta, roteirista e estudante de História da Arte. Também é carioca, tricolor e muito viciada em filmes e algumas séries dos anos 90/00.
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