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Django Livre

(Django Unchained, EUA, 2012)

Ação
Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Walton Goggins, Dennis Christopher, James Remar, David Steen, Dana Michelle Gourrier, Nichole Galicia, Laura Cayouette, Don Johnson, Franco Nero, James Russo, Jonah Hill
Roteiro: Quentin Tarantino
Duração: Duração 165 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Entre as maiores qualidades de Quentin Tarantino está a de fazer cinema se divertindo muito. Algumas pessoas simplesmente não conseguem aceitar, e só enxergam em qualquer trabalho dele algum potencial e imaturidade. De outro lado, há aqueles que se entregam completamente e percebem genialidade e perfeição. Menos descrença e menos animação, porém, são necessários para analisar a obra do diretor que, ainda bem, não está nem aí para nada disso e, além de ter desenvolvido um gênero próprio, segue fazendo um cinema extremamente pessoal, que mistura humor e violência em referências e homenagens, e sabe como mesclar o clássico ao pop.

Ele está mais uma vez de volta aos cinemas, com Django Livre, a história de um escravo liberto que sai pelos Estados Unidos com Dr. King Schultz, o dentista que o alforriou, caçando procurados pela justiça em troca de recompensa. Nessa jornada, eles encontram a excêntrica figura de Calvin Candie, um “sinhozinho” que negocia escravos para que sirvam como lutadores em brigas de aposta.

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Assim como em Bastardos Inglórios, o filme volta a um passado de escravidão e preconceito que preferíamos não ter existido e possibilita uma vingança histórica. Vingança, aliás, é tema recorrente em toda a obra do diretor, que agora se volta a grandes fatos da humanidade e da história de seu povo.

O filme é dividido em duas partes. Na primeira, somos apresentados aos protagonistas e acompanhamos o dia a dia da caça por recompensas no sul dos Estados Unidos, onde a impera a escravidão e a consequente e oportuna discriminação racial. Na segunda parte, seguimos a tentativa da dupla em resgatar uma pessoa do passado de Django, mas vale deixar a trama para ser descoberta no cinema.

Em 165 minutos, há muita ação, sangue, humor, violência e, como sempre, muita crítica. Habilidoso em transformar sua própria cinefilia em um cinema próprio, Tarantino homenageia o western misturando referências claras ao gênero – com músicas, falas e planos específicos – a outras aleatórias, como na violentíssima cena que chega em flashback ao som de Beethoven, lembrando Kubrick.

A técnica apurada, característica de sua filmografia, também está presente. Desde o cuidado com os créditos até a coreografia da última cena de ação. Seja na imponente fotografia de Robert Richardson ou no trabalho fantástico de reconstrução de época de J. Michael Riva (desenho de produção), David F. Klassen (direção de arte), Leslie A. Pope (cenografia) e Sharen Davis (figurino). Tudo calculado e bem posicionado, provando que o diretor sabe mesmo como impressionar.

Mas ainda que seja tão bom em tantos aspectos, Django Livre fica devendo a outros títulos da filmografia de Tarantino. Ainda que conte com trabalhos excepcionais de Christoph Waltz como o dentista Dr. Schultz, Leonardo DiCaprio como Candie e Samuel L. Jackson como o escravo Stephen, falta envolvimento na atuação de Jamie Foxx no papel principal. Esse desequilíbrio compromete o resultado final.

Outro problema grave está na montagem do filme. Depois de uma longa parceria com Sally Menke, falecida em 2010, o diretor americano encarregou Fred Raskin, editor assistente em Kill Bill, da montagem. A experiência com títulos da franquia Velozes e Furiosos e uma talvez falta de intimidade com Tarantino, não foram suficientes para tirar toda a gordura do filme, além de se perder no ritmo de maneira grave. Depois de um início empolgante, o filme entra numa vala e, quando sai, não consegue recuperar a agilidade.

O problema, sério, frusta um bocado, porém não consegue anular os muitos pontos positivos e nem invalidar a vontade de assistir ao filme. Que, ainda assim, continua sendo diversão de qualidade e uma ótima pedida para cinéfilos e fãs do diretor.

Um Grande Momento:
A compra de Django.

Logo-Oscar1Oscar 2013
Melhor Ator Coadjuvante (Christoph Waltz), Melhor Roteiro Original

Django-Livre

Links

IMDb Site Oficial [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=KzkTpCOOcTM[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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