Críticas

Antologia da Cidade Fantasma

(Répertoire des villes disparues, CAN, 2019)
Drama
Direção: Denis Côté
Elenco: Robert Naylor, Josée Deschênes, Jean-Michel Anctil, Larissa Corriveau, Diane Lavallée, Rémi Goulet, Jocelyne Zucco, Normand Carrière, Hubert Proulx, Rachel Graton
Roteiro: Denis Côté
Duração: 97 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

O primeira impressão com Antologia da Cidade Fantasma é o estranhamento. Em meio a uma paisagem deserta, coberta de neve, um carro se choca com blocos de concreto. Crianças com máscaras assustadoras aparecem e saem correndo.

Os fatos seguintes fazem mais sentido. Aos poucos é possível compreender parte do que aconteceu. Denis Côté, em uma livre adaptação do romance “Répertoire Des Villes Disparues” da escritora Laurence Olivier, constrói o seu drama sobrenatural. A apresentação estranha da história é o convite adequado para se conhecer Irenée-les-Neiges, uma pequena cidade com apenas 215 habitantes.

Com a morte de Simon, a primeira em muito tempo no local, todos do ficam abalados. Mas o drama foca nos mais próximos, a família e uma amiga. No vazio da ausência repentina, a mãe começa a buscar respostas em lugares inesperados, o irmão tenta se contactar com o além e o pai foge da dor. A amiga, mais sensível e a única a entender o quadro geral, que a princípio se mantém afastada, começa a antecipar aquilo que será a realidade de toda cidade.

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Côté tempera o seu drama com ansiedade e algumas presenças inexplicáveis. Além da câmera na mão, ele vai criando situações incômodas ao longo de todo o filme, como o discurso da prefeita, o cervo morto ou o caixão no depósito. E o longa vai se construindo numa espera por algo inusitado que se sabe prestes a chegar.

E chega. Em um terror sofisticado, que não se entrega de pronto, mas se descobre esteve sempre ali. A presença do sobrenatural, visualmente explícita, ganha força na gelada paisagem local. Tropeça na forma como é explicada, mas não deixa de ser eficiente em seu principal objetivo: assombrar.

O filme não deixa de usar os sustos, mas tem sua maior força no modo como trabalha o obscuro, consciente de que é no desconhecido que se encontra o terror mais genuíno. Presenças mudas e estáticas, que se multiplicam são também assustadoras, até mais. Côté mantém o inexplicado assim.

No fim, e por trás de tudo, todos precisam lidar com seus mortos, Irenée-les-Neiges precisa lidar com seus mortos. Com jovens deslocados, depressão, suicídio e outras questões graves. Vem à mente uma frase de Stephen King: “Criamos horrores para nos ajudar a lidar com os reais”.

Antologia da Cidade Fantasma é um filme bem interessante. Um competente e equilibrado drama de terror, que não deixa de dar atenção para nenhum dos dois gêneros e, com todo o seu estranhamento, permanece com o espectador um bom tempo depois da exibição.

Um Grande Momento:
Adéle suspensa.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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