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Apartamento 7A

Requentado inseguro

(Apartment 7A, EUA, AUS, GBR, 2024)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Natalie Erika James
  • Roteiro: Natalie Erika James, Christian White, Skylar James
  • Elenco: Julia Garner, Dianne Wiest, Kevin McNally, Jim Sturgess, Marli Siu, Rosy McEwen, Andrew Buchan, Anton Blake Horowitz, Raphael Sowole, Tina Gray, Patrick Lyster, Rachel Atkins
  • Duração: 107 minutos

O casal Woodhouse havia acabado de se mudar para o edifício Bramford. Uma noite, ao voltar para casa, depararou-se com a chocante cena do suicídio de Terry Gionoffrio, que havia pulado da janela momentos antes. Rosemary e a vizinha se conheceram rapidamente na lavanderia no porão do prédio e foi ela quem informou o nome dela à polícia no local. Coadjuvante de um dos maiores clássicos de terror do cinema de todos os tempos, O Bebê de Rosemary, é a história de Terry que será contada em Apartamento 7A. A prequel do longa de Roman Polanski se aproxima de conhecidos personagens, eventos e atividades da seita satânica que atua para a concepção do anticristo para criar uma nova trama.

O filme, que está disponível na Paramount+, é dirigido por Natalie Erika James (Relíquia Macabra), e vai além da complexidade da maternidade, algo tão presente no primeiro filme, embora mantenha as questões ligadas à posição da mulher na sociedade em destaque em seu desenvolvimento. É curioso ver as diferenças de narrativa em um filme que se apresenta quando tanta coisa mudou e os papéis sociais, assim como a consciência de gênero, já se apresentam de maneira diversa, embora ainda sujeitas aos padrões de outrora. Aqui, a protagonista, uma atriz e dançarina que sonha em ver seu nome estampado nos letreiros da Broadway, une as intenções e desejos de Guy às inseguranças e agressões sofridas por Rosemary.

A ideia por trás de Apartamento 7A é boa, especialmente a vontade de trazer alguma complexidade à figura de Terry. James até chega a investir em algo distinto e consegue demonstrar suas intenções em passagens específicas, quando tenta acrescentar elementos de uma nova realidade a um universo conhecido. Porém, a dívida evidente com o filme de 1968 compromete o resultado. A necessidade de ligação e homenagem constantes dificultam o andamento da trama e, consequentemente, o envolvimento do espectador. Embora o longa tenha os seus momentos, o que se vê está sempre à sombra de algo já conhecido.

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Como se isso não fosse o suficiente, Apartamento 7A ignora uma das talvez maiores ferramentas do horror, aquela que sabe respeitar a imaginação do espectador e que foi tão habilmente utilizada por Polanski em seu O Bebê de Rosemary: aquilo que não se vê assombra muito mais do que aquilo que se explicita. Tanto que são muitos os que se lembram de um bebê que jamais foi mostrado na tela. O novo filme, inseguro de sua possível potência – e olha que tinha bagagem anterior a ele –, mostra demais. E não é uma questão de ter glitter ou não, é uma questão de estar ali. Muitas vezes ali.

Apesar disso, é necessário reconhecer todo o trabalho de Julia Garner no papel da protagonista. Sempre única em seus papéis, ela consegue transitar entre suas realidades – mesmo com suas limitações vocais. O elenco traz ainda Jim Sturgess como o diretor de uma companhia de teatro e responsável pelo aliciamento da protagonista; Kevin McNally, como o novo Roman Castevet e Dianne Wiest como Minnie, sua mulher. O casal de idosos mantém a identidade e Wiest, com uma interpretação cheia de ironia, está excelente no papel. A boa trilha (eis aqui uma referência interessante), e todo o trabalho de ambientação também se destacam.

Um grande momento
O grand jeté

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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