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Assalto ao Banco da Espanha

Conforto incômodo

(Way Down, ESP, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Jaume Balagueró
  • Roteiro: Rafa Martínez, Andrés M. Koppel, Borja Glez. Santaolalla, Michel Gaztambide, Rowan Athale
  • Elenco: Freddie Highmore, Astrid Bergès-Frisbey, Sam Riley, Liam Cunningham, Jose Coronado, Luis Tosar, Emilio Gutiérrez Caba, Axel Stein, Daniel Holguín, Famke Janssen
  • Duração: 118 minutos

Jaume Balagueró construiu sua carreira como cineasta em torno de um gênero específico, no caso o horror, até se enraizando nesse espaço restrito, e especificamente uma cinessérie, [REC], ficando marcado a ele até parecer diluído, sem ganhar necessariamente uma personalidade que o eleve ao material de origem. Talvez por isso um filme como Assalto ao Banco da Espanha oxigene sua filmografia parcialmente, desfocando suas habilidades para uma proposta que ele não tivesse buscado anteriormente, ainda que o cinema para multidões seja sua aparente ambição, somente trocando seus códigos ilusórios de artifício.

Colocando isso em questão, não há nada de novo acontecendo aqui, na criação do projeto, na sua organização ou na execução final. Se trata de mais um típico “filme de roubo a banco”, com o tradicional recrutamento aparentemente bizarro inicial, a apresentação do plano impossível, as regras do jogo colocadas à mesa, as personalidades conflitantes de seus membros, o primeiro ato onde tudo parece dar mais errado que certo (e que deixa uma falsa apreensão intranquila ao futuro dos eventos), o romance no ar para agradar o espectador em busca de teledramaturgia e, pra encerrar, o assalto em si, que segue também ela preceitos básicos da narrativa padrão.

Assalto ao Banco da Espanha

Escrito a dez mãos, fica difícil compreender como um filme tão reiterativo de suas próprias ideias precisou de tantas cabeças pensantes para não elaborar exatamente nada de refrescante para o projeto, seguindo o caminho que todos os outros filmes banais sobre o tema já percorreram e servindo como um produto de consumo raṕido e fixação inexistente, afinal sabemos que na próxima esquina teremos um exemplar idêntico sendo apresentado. Mesmo o desenho dos personagens, suas funções no desenvolvimento e seu desfecho acompanham o lugar óbvio de sempre, sem adquirir nenhuma camada resistente aos clichês.

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Assalto ao Banco da Espanha é um filme basicamente sem contra-indicações. Como está deitado em lugar já amplamente conhecido do público, o filme acaba por não desejar uma exploração de novas possibilidades, o que prova a ineficácia do conforto no cinema. Trata-se de um filme já tão testado e aprovado por tantas vezes anteriores que essa novidade em novas cidades, em novos espaços públicos, com um elenco diferente e uma roupagem de pano de fundo até atraente (a final da Copa do Mundo de 2010), o esqueleto do projeto não consegue imprimir uma sensação que o tire do piloto automático, ainda que sob o efeito da adrenalina da produção.

Assalto ao banco da Espanha

Em especial uma escalação parece ter pretendido uma coisa diferenciada, com alcance da mesma zona de repetição presente em todo o projeto. Freddie Highmore, o jovem revelado ainda criança em Em Busca da Terra do Nunca e hoje lembrado pelas séries Bates Motel e The Good Doctor, está em cena como a reproduzir a mesma energia e a mesma cadẽncia desses dois personagens tão marcantes. A qualquer momento, o dr. Shaun Murphy parece prestes a saltar da tela, e isso soa como uma facilidade do filme em buscar uma associação rápida de conhecimento do público, além do ator não conseguir nunca expressar estar sendo desafiado pelo filme.

O resto do elenco, embora incrivelmente talentoso como Liam Cunningham (de Ventos da Liberdade), Sam Riley (de Control) e Luis Tosar (de Cela 211), não parece motivado a tentar fugir de algo que nem o roteiro nem a direção muito preocupada em consertar, que seria como processar essa dinâmica de maneira nova. Em Assalto ao Banco da Espanha, fica claro que a tentativa de Balagueró em mudar de ares na carreira não teve como motivação uma movimentação genuína sua, mas uma convenção vazia para uma reinvenção nada orgânica.

Um grande momento
A escada de ferro

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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