Crítica | Streaming e VoD

Atlas

Mapa para o nada

(Atlas , EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Ficção científica
  • Direção: Brad Peyton
  • Roteiro: Leo Sardarian, Aron Eli Coleite
  • Elenco: Jennifer Lopez, Simu Liu, Sterling K. Brown, Mark Strong, Gregory James Cohan, Abraham Popoola, Lana Parrilla
  • Duração: 110 minutos

Enquanto houver Netflix, haverá espaço para que muitas vertentes ultrapassadas do cinema sejam relidas. Vindo de um entusiasta da nostalgia enquanto sentimento, mas que já começa a encontrar um certo cansaço em vertentes cada vez mais estabelecidas, encontrar algo como Atlas como um hit absoluto, e observar que o mesmo não acontecerá com Furiosa: Uma Saga Mad Max, é para perder qualquer chance de esperança. Não apenas no cinema, mas principalmente no ser humano que preferiu esse fim de semana se debruçar sobre um trabalho convencional e datado esteticamente, com uma narrativa tão atrevida quanto irresponsável, e que não apenas passará ao largo de mudar a vida de alguém, como nem durante as quase duas horas será minimamente divertida. 

É especialmente triste se decepcionar com Brad Peyton, que nunca tentou ser um cineasta de primeiro time, mas que entregava filmes bonitos e agradáveis de serem vistos, como sua dupla de filmes protagonizada por The Rock, Rampage e Terremoto. Tudo o que Atlas não é, é uma produção que se dedica a resolver suas questões estéticas, pelo contrário. Das produções de primeira linha mais deixadas de lado já produzidas pelo streaming, essa é uma experiência que lembrou o fiasco qualitativo Alerta Vermelho, que no entanto é a maior audiência da História da Netflix. Em comum, temos dois produtos desleixados, com aparência de mal produzidos e que tratam o espectador como lata de lixo, onde podem ser jogadas quaisquer coisas. 

Existe um agravante que deixa Atlas ainda bastante insatisfatório: para onde se olha, vemos um filme feio. Com uma aparência inicial que nos faz recordar de produções de vigésima categoria lançadas para o mercado de audiovisual doméstico dos anos 90, o filme ganha uma sobrevida quando enfim a personagem-título chega ao seu destino. E aí o que passa a incomodar é o “roteiro” de Leo Sardarian e Aron Eli Coleite – o primeiro um absoluto estranho e o segundo um veterano de séries de tv. Os clichês não apenas representam que o filme já foi visto diversas vezes antes, mas eles se amontoam de maneira tão agressiva que nem conseguimos criar algum laço com algo que se vê, e a intenção do filme é a de uma conexão que não acontece, e não vai acontecer nunca. 

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O elenco reunido é bom e premiado, como Sterling K. Brown e Mark Strong, mas ninguém em cena consegue impedir o rolo compressor. Quem poderia fazê-lo atende pelo nome de Jennifer Lopez, protagonista e produtora dessa salada onde tudo pode se tornar real. Mas ela não vai fazẽ-lo, e ainda deve estar comemorando os feitos numéricos de seu filme, quando nada em cena deveria ser considerado aceitável. Repleto de ação e de efeitos especiais, Atlas deveria funcionar com o público a que se destina – aquele que só quer acompanhar os efeitos de grandes blockbusters e soltar gritos de felicidade durante uma sessão. Mas me pergunto se uma produção tão artificial, com tanto tédio no que está sendo mostrado ainda que com ritmo, consegue interessar alguém do início ao fim. 

Se Lopez não fosse a protagonista de Atlas, ele não teria metade do marketing que está tendo. Nessa mesma data do ano passado, a atriz lançou na mesma Netflix A Mãe, que já era um esforço considerável; ao lado de seu novo filme, o anterior se sobressai ainda mais. Ainda que melhore tecnicamente da metade pro fim, a produção passa a investir na ligação sentimental entre sua protagonista e um aparato mecânico do qual, de humano, só temos contato com a voz. Não há qualquer condição de acreditar na construção do afeto entre um ser humano e algo que nem aparência humanoide tenha. Vai além do que Steven Spielberg fez há 40 anos atrás, quando nos fez se apaixonar por um extraterrestre, porque aqui estamos diante de uma máquina, apenas. 

Para coroar a produção, o roteiro sai pela tangente todas as vezes que precisa tratar mais seriamente das implicações acerca da inteligência artificial. Se em determinado momento, a demonização da situação é bastante explícita, ao final o filme joga todo o ‘plot twist’ no humano quanto à culpabilidade do sistema, como se Hollywood não estivesse ameaçada nesse momento por conta da situação envolvendo esse tipo de progresso indiscriminado. É uma briga desnecessária para se comprar, por um filme tão descartável. 

Um grande momento
Atlas x Harlan

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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