(Ava, EUA, 2020)
Quando com 10 minutos de filme, esse novo Ava apresenta um erro de continuidade imperdoável, o espectador vem a desconfiar de um desleixo estético que nem sempre define a qualidade de uma produção, mas não demora para que percebamos que esse deslize estético da nova estreia da Netflix é menor quando colocado em paralelo ao que posteriormente é apresentado, uma sucessão de clichês de filmes de assassino de aluguel que até mudando de gênero já foi excessivamente visto, vide Nikita e o recente Anna; entre outras coisas, falta charme ao projeto.
Esse não é o primeiro a unir Jessica Chastain e Tate Taylor, eles se conheceram em Histórias Cruzadas, que rendeu a ela sua primeira indicação ao Oscar. Mas se lá a atriz conseguiu imprimir alguma propriedade a um papel difícil, aqui a fórmula vigente, que segue a “personagem eficiente em seu ofício porém caída em desgraça pelo vício e por uma súbita tomada de consciência”, não dá espaço para criação, tanto aos seus atores quanto ao próprio filme, que raramente apresenta algo empolgante ou renovado, apenas seguindo a cartilha que rege as fórmulas impressas nessa receita insossa.
Qual não é o susto ao perceber que a montagem do filme, um ponto focal problemático, é conduzida por Zach Staenberg, multi premiado por Matrix. Sem conseguir alinhavar ritmo ao filme, apenas empilhando cortes aleatórios e inexplicáveis ao material, Ava não tem coerência de edição, constantemente demonstrando a ausência de um trabalho de que pudesse concatenar o significado de tais encadeamentos e acabamentos (mais de uma vez o filme aponta atores que demoram a reagir à ação), que só parecem aleatórios, como se o profissional responsável fosse um iniciante inexperiente, quando na verdade é o oposto, sem justificar esse resultado.
O elenco reunido de primeiríssima grandeza (John Malkovich, Colin Farrell, Geena Davis, Joan Chen, Common, além da protagonista) parece pouco à vontade com o material que têm pra trabalhar, um roteiro que não aprofunda suas relações, que usa artifícios canhestros para contar sua trajetória (a protagonista em determinado momento vai a um grupo de apoio, onde conta toda sua história ao espectador, e esse grupo nunca volta a aparecer, afinal sua função era só aquela), apenas seguem suas marcações que, ora soam redundantes, ora contrastantes aos seus personagens.
Quanto ao diretor Taylor… bom, ele tentou fazer drama histórico (Histórias Cruzadas) e não deu certo; tentou fazer biografia (James Brown) e não deu certo; tentou fazer thriller (A Garota no Trem) e não deu certo; tentou fazer terror (Ma) e não deu certo. Mais uma vez, suas habilidades não se fizeram presentes, segue sendo empregado de estúdio que não apenas não abrilhanta nada como ajuda a piorar trabalhos que poderiam ter uma forma menos burocrática. Ava mistura mão pesada para tratar os temas emocionais, e dispersão para organizar o que seria dinâmico.
Completamente desmotivado por tanto amadorismo, o elenco se arrasta caçando dignidade ao projeto, que em momentos raros são reconhecidos no meio de cenas vazias, como quando Geena Davis desabafa, ou quando John Malkovich e Colin Farrell se enfrentam. Por um lapso o filme parece ganhar sentido estético e narrativo, mas embora arrume até uma espinha interessante (a observação de uma família mafiosa), são muitos elementos arremessados à esmo durante 1 h e meia, um tempo irrecuperável.
Um grande momento
Duke x Simon