(Ava, EUA, 2020)
Quando com 10 minutos de filme, esse novo Ava apresenta um erro de continuidade imperdoável, o espectador vem a desconfiar de um desleixo estético que nem sempre define a qualidade de uma produção, mas não demora para que percebamos que esse deslize estético da nova estreia da Netflix é menor quando colocado em paralelo ao que posteriormente é apresentado, uma sucessão de clichês de filmes de assassino de aluguel que até mudando de gênero já foi excessivamente visto, vide Nikita e o recente Anna; entre outras coisas, falta charme ao projeto.
Esse não é o primeiro a unir Jessica Chastain e Tate Taylor, eles se conheceram em Histórias Cruzadas, que rendeu a ela sua primeira indicação ao Oscar. Mas se lá a atriz conseguiu imprimir alguma propriedade a um papel difícil, aqui a fórmula vigente, que segue a “personagem eficiente em seu ofício porém caída em desgraça pelo vício e por uma súbita tomada de consciência”, não dá espaço para criação, tanto aos seus atores quanto ao próprio filme, que raramente apresenta algo empolgante ou renovado, apenas seguindo a cartilha que rege as fórmulas impressas nessa receita insossa.
![Ava 2020](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2020/12/Ava-2020_interno1.jpg)
Qual não é o susto ao perceber que a montagem do filme, um ponto focal problemático, é conduzida por Zach Staenberg, multi premiado por Matrix. Sem conseguir alinhavar ritmo ao filme, apenas empilhando cortes aleatórios e inexplicáveis ao material, Ava não tem coerência de edição, constantemente demonstrando a ausência de um trabalho de que pudesse concatenar o significado de tais encadeamentos e acabamentos (mais de uma vez o filme aponta atores que demoram a reagir à ação), que só parecem aleatórios, como se o profissional responsável fosse um iniciante inexperiente, quando na verdade é o oposto, sem justificar esse resultado.
O elenco reunido de primeiríssima grandeza (John Malkovich, Colin Farrell, Geena Davis, Joan Chen, Common, além da protagonista) parece pouco à vontade com o material que têm pra trabalhar, um roteiro que não aprofunda suas relações, que usa artifícios canhestros para contar sua trajetória (a protagonista em determinado momento vai a um grupo de apoio, onde conta toda sua história ao espectador, e esse grupo nunca volta a aparecer, afinal sua função era só aquela), apenas seguem suas marcações que, ora soam redundantes, ora contrastantes aos seus personagens.
![Ava 2020](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2020/12/Ava-2020_interno2.jpg)
Quanto ao diretor Taylor… bom, ele tentou fazer drama histórico (Histórias Cruzadas) e não deu certo; tentou fazer biografia (James Brown) e não deu certo; tentou fazer thriller (A Garota no Trem) e não deu certo; tentou fazer terror (Ma) e não deu certo. Mais uma vez, suas habilidades não se fizeram presentes, segue sendo empregado de estúdio que não apenas não abrilhanta nada como ajuda a piorar trabalhos que poderiam ter uma forma menos burocrática. Ava mistura mão pesada para tratar os temas emocionais, e dispersão para organizar o que seria dinâmico.
Completamente desmotivado por tanto amadorismo, o elenco se arrasta caçando dignidade ao projeto, que em momentos raros são reconhecidos no meio de cenas vazias, como quando Geena Davis desabafa, ou quando John Malkovich e Colin Farrell se enfrentam. Por um lapso o filme parece ganhar sentido estético e narrativo, mas embora arrume até uma espinha interessante (a observação de uma família mafiosa), são muitos elementos arremessados à esmo durante 1 h e meia, um tempo irrecuperável.
Um grande momento
Duke x Simon