Crítica | Festival

Dawson City: Tempo Congelado

(Dawson City: Frozen Time, EUA, 2016)
Documentário
Direção: Bill Morrison
Roteiro: Bill Morrison
Duração: 120 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Há quase 30 anos, o diretor americano Bill Morrison vem produzindo um trabalho interessado na exploração de cada segundo do mais banal curta-metragem produzido nos primórdios do cinema e nas possibilidades de intervenção desses registros, por vezes vendo as possibilidades poéticas mesmo em uma película deteriorada em sua totalidade e prestes a ser descartada.

Em Dawson City: Tempo Congelado, a intervenção não é abandonada, mas é a primeira vez em sua carreira que uma construção narrativa mais convencional tem uma presença forte. Aqui, os trechos que trabalha estão a serviço de uma história e não necessariamente de um experimento.

Trata-se de um documentário que mexe diretamente com a sensibilidade de qualquer cinéfilo que se preze. Em 1978, mais de 500 rolos de filmes foram encontrados em um pergelissolo por Frank Barrett, à época um profissional da construção civil. Tudo permaneceu enterrado por aproximadamente 50 anos e a averiguação trouxe obras cinematográficas perdidas.

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A razão para os filmes serem encontrados nessa condição é um mistério que será elucidado no encaminhamento para o terceiro ato do documentário, pois Bill Morrison prioriza a história de Dawson City, localidade de Yukon, Canadá. Fundado em 1897, o local foi drasticamente modificado com a corrida do ouro. De um ambiente povoado por indígenas, foi tomado por trabalhadores em busca de enriquecimento e finalmente convertido em uma cidade com menos de cinco mil habitantes em 1902, sendo inclusive o último destino de muitos filmes para serem projetados.

Outros pontos essenciais de Dawson City são elucidados com a costura de grande parte dos filmes encontrados por Barrett e posteriormente restaurados, com cenas ficcionais e documentais exibidas para ilustrar os contextos históricos. Entre eles, há também a manipulação e conservação inadequadas da película, tendo em sua composição o nitrato de celulose, responsável por provocar combustões que incendiaram casas de projeção, muitas vezes com resultados trágicos envolvendo a perda de vidas humanas.

Na pesquisa, Morrison insere fatos que soam deslocados, como um escândalo em uma partida de beisebol ocorrido em 1919 e registrado em filme. Outros valem mais pela curiosidade, a exemplo da passagem por Dawson City de Frederick Trump, avô de ninguém menos que o atual presidente americano Donald Trump.

Mesmo assim, o excesso não dispersa o interesse pelo documentário, que reforça a importância da preservação de nossa memória, processada em um material hoje em desuso com o avanço da tecnologia digital. Além do mais, a paixão de Morrison pelo cinema é declarada pela organização de sua montagem, que engrandece um passado quase perdido para sempre com a bela música de Alex Somers.

Um Grande Momento:
O depoimento de Frank Barrett.

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[13ª CineOP]

Alex Gonçalves

Alex Gonçalves nasceu em Santo André e não é capaz de vivenciar um instante no automático. Às vezes bem-humorado, às vezes ranzinza, é também alguém que não sobrevive sem seus vícios por cinema, música, leitura, fotografia e Internet. Editor desde 2007 do blog Cine Resenhas.
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