- Gênero: Documentário
- Direção: Safira Moreira
- Roteiro: Safira Moreira
- Duração: 5 minutos
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A fotografia guarda e apaga. Nas imagens de família, um rosto pode ser lembrança, mas também pode ser lacuna. Ao procurar vestígios, que Safira Moreira constrói Travessia. Não como quem deseja respostas prontas, mas como quem insiste em transformar a ausência em narrativa. Suas fotos são matéria. O olhar desliza pelas superfícies e presta atenção em detalhes quase imperceptíveis.
Assim como ela, é como se a câmera também perguntasse, como se também buscasse um corpo que não está. Cada retrato se abre em possibilidades, e o que parecia documento ganha contornos de invenção. O que está além do arquivo é a memória e ela é assim, afinal de contas.
Nesse movimento de tocar as imagens, a diretora não fala só de si. Sua ausência se mistura a tantas outras ausências. É uma busca íntima e, ao mesmo tempo, coletiva. Um reflexo de como a história negra no Brasil foi arquivada de forma incompleta, com pedaços arrancados, silêncios forçados e histórias apagadas.
O curta se sustenta nesse entrelugar, ou não-lugar. A travessia é feita de fragmentos, de costuras que não fecham. O vazio não é preenchido, mas aceito como parte da experiência. O tempo não se organiza em ordem, porque a memória nem sempre consegue se organizar.
Há ternura nesse gesto. Para além da falta, há também a reinvenção do afeto. Safira inventa presença na ausência, não como fantasia, mas como forma de continuar. O cinema se torna espaço de permanência, onde aquilo que parecia apagado encontra um jeito de reverberar.
O silêncio não termina quando Travessia acaba. Ele se prolonga e fica com quem o assiste. A procura da diretora é a de muitas e muitos e, a partir daquele momento, passa a ser também nossa.
Um grande momento
Falando sobre os filmes fotográficos


