- Gênero: Comédia
- Direção: Lina Roessler
- Roteiro: Anthony Grieco
- Elenco: Michael Caine, Aubrey Plaza, Scott Speedman, Ellen Wong, Cary Elwes, Luc Morissette, Frank Schorpion, Veronica Ferres
- Duração: 102 minutos
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Alguns projetos existem para que nós, espectadores, tenhamos o deleite de acompanhar grandes mestres reafirmarem sua maestria. Best Sellers – A Última Turnê é um desses casos, e o mestre em questão atende pelo nome de Michael Caine. Dono de um talento incomensurável, já disponibilizado para o público há seis décadas, o ator britânico caminha para completar seus 90 anos na próxima temporada. Não é exagero afirmar que não foram muitos atores mais aplaudidos que ele, e até hoje seu nome é sinônimo de qualidade, no que tange apenas os seus esforços. Mesmo entre as mais novas gerações, seu nome é sinônimo de competência e reconhecimento, tendo se envolvido em inúmeros blockbusters nas últimas décadas. O que está em jogo nesse novo filme nunca é o seu espaço, que inclusive ajuda a credibilizar a produção.
Já existem dois novos filmes prontos, mas Lina Roessler dirigiu esse que é seu último lançamento, até o momento, que a rede Telecine nos entrega hoje. Esteve fora da competição do Festival de Berlim do ano passado, e está absolutamente sob as costas de Caine tudo que há de memorável no projeto. Nem de longe a diretora imaginava realizar algo fora de série, tendo em vista que se tratam de premissa e roteiro já excessivamente vistos no cinema, que não perdem a força graças à entrega de seu protagonista em tornar tudo elegante e gracioso, com o toque de malícia que muitas só ele soube capaz de dar. Fora de sua competência, o filme passeia de maneira tranquila por terreno conhecido sem providenciar qualquer abalo que se considere fora do esquadro; sinta-se confortável em apreciar um filme sem contra indicações.
Caine é capaz de coisas muito opostas em cena. Seu personagem, Harris Shaw, é absolutamente irresponsável, antipático, até um pouco arrogante, grosseiro por muitas vezes e raramente reconhece o interlocutor. Durante uma boa parte da produção, não somos muito levados a compreender seu lado e sua visão dos fatos, porque ele não pretende criar relações positivas com ninguém, por melhores (ou piores) que seja a intenção alheia. A partir de determinado momento, é o mesmo Caine quem nos permite enxergar um novo Shaw, deprimido, de coração arrasado, trapaceado pela vida e por pessoas próximas, ou seja, alguém que teria todos os motivos do mundo para ser tão avesso ao próximo quanto demonstra ser.
Esse é um truque que só grandes atores são capazes, e a despeito desse não ser o último título que iremos assistir com sua presença – inclusive um dos próximos, ele virá mais uma vez como protagonista – Best Sellers já é devidamente marcante por nos apresentar o Harris Shaw de Caine. O cinema é repleto de grandes personagens: J. J. Gittes, Don Corleone, Mabel Longhetti, Catherine Tramell, Daniel Plainview, Norma Rae… tantos, tão complexos, em obras tão definitivas; aqui, não está um filme como os que emolduraram esses ícones. A verdade é Best Sellers não é digno de Harris Shaw, que seria capaz de render um material muito mais suculento, defendido pelo ator que é, se desenvolvido com a mesma pujança que seu intérprete encontra nele, destrincha e consegue nos entreter e encantar por pouco mais de 1 h e meia.
Anthony Grieco é um “ator” cuja estrela não brilhou, e que estreia na escrita com esse roteiro que tem como grande realização o surgimento das possibilidades para Caine. Tirando o palco que organiza para que um ator superlativo brilhe, as linhas gerais que apresentam esse homem tão fascinante, não há muita motivação por trás de seu escrito. Roessler também é atriz, e aqui apresenta sua primeira direção de longas sem muitas possibilidades de avançar por lugares de risco. É, como já dito, um terreno muito seguro para o desenvolvimento de um projeto que só intencionava o entretenimento adulto, com espaço para o riso e a emoção em igual medida. Agradável seria a palavra que melhor definiria o resultado final, ainda que não seja o prato mais entusiasmante do cardápio.
Mesmo a relação que surge entre Caine e igualmente ótima Aubrey Plaza (de A Comédia dos Pecados) soa batida, porque já vimos inúmeros embates entre gênios e seus agentes, e as situações envolvendo seus personagens não vão além da repetição. Mas o que essa dupla encontra em seus lugares é no mínimo delicado para contar essa história. Se Plaza não ultrapassa os limites do que seu talento já provou capaz, é porque ainda falta nela a maturidade de perceber que grandes oportunidades podem surgir de lugares estapafúrdios, e até muito piores que Best Sellers. Isso Caine faz de sobra – quem já foi vilão de Steven Seagal, pai do Austin Powers e encarou até tubarões, sabe onde poderia desabrochar Harris Shaw. É de aplaudir de pé.
Um grande momento
Na mira do rifle