Crítica | Outras metragens

Boi de Conchas

O acalento da lenda

(Boi de Conchas, EUA/BRA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Daniel Barosa
  • Roteiro: Daniel Barosa
  • Elenco: Daniela Dams, Bianca Melo, Kaique Martins De Paula, Kyuja Ohanna, Tainara Corrêa, Giulia Esposito, Bebé Salvego, Thiago Klein, Maitê Dias, Walter Balthazar
  • Duração: 15 minutos

Existe uma lenda no litoral paulista que conta a história do boi Ratambufe, animalzinho branco que sonhava em conhecer o mar, uma promessa antiga de seu dono. No dia em que desceu a serra e viu ao longe aquilo que era tão imenso e tão belo, descobriu também que seu destino era o abate. Ratambufe, o Boi de Conchas, mudou o caminho e correu em direção ao mar, sumindo entre as águas. Dizem que agora aparece de vez em quando, principalmente quando chamam por ele.

O curta-metragem de Daniel Barosa encontra na história de Ratambufe a metáfora para falar das angústias de uma geração que não consegue se sentir pertencente. Entre a dubiedade de fugas, uma otimista, menos provável, e a pessimista, que mais condiz com a desesperança e a melancolia ressaltadas por outros sinais espalhados pelo filme, estão questões que afetam toda uma sociedade adoentada.

Boi de Conchas (The Shell Covered Ox) mistura a tradição e o novo, o fazer artesanal com o solo no baixo elétrico, mais uma tarde na praia com as amigas com o ensaio da banda de death metal por aplicativo de mensagem. É um filme que fala de desacertos, da falta de espaço e de conflitos geracionais, mas, principalmente, tem põe em tela sua representação do medo e da ausência. 

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A história que conta de Rayane não existe sem a sombra de se sua irmã Raissa, sem o desejo da primeira em encontrar ou sentir a segunda. E a lenda do Boi de Conchas se reconfigura porque ela não está ali apenas para servir como ilustração metafórica de um caminho, a representação da escolha de um destino. Acreditar na transformação dos jovens, entre eles Raissa, é um acalento aos que ficam por fazer acreditar que eles ainda estão ali de alguma forma, que existem, podem ser alcançados e voltarão quando chamados.

Sonho que boi sonhava era um dia ver o mar

Um grande momento
O solo

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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