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Camaleões

Lugares comuns, caminhos diversos

(Reptile, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Grant Singer
  • Roteiro: Grant Singer, Benjamin Brewer, Benicio Del Toro
  • Elenco: Benicio Del Toro, Justin Timberlake, Eric Bogosian, Alicia Silverstone, Domenick Lombardozzi, Frances Fisher, Ato Essandoh, Michael Pitt, Karl Glusman, Mike Pniewski
  • Duração: 134 minutos

Uma casa grande sendo preparada para ser vendida. A piscina abandonada, o armário sujo, tudo indica que aquilo está daquele jeito há muito tempo e ali, perdidos no espaço vazio, um casal que parece não se entender mais tão bem assim. O clima meio misterioso de Camaleões é um bom indício do que será o resto do filme. Dirigido por Grant Singer, conhecido por seus muitos videoclipes de nomes famosos do pop mundial, como The Weeknd, Camila Cabello, Sam Smith e Shawn Mendes, o longa busca na tradicional figura do policial atormentado com o passado e em uma história recheada de reviravoltas a força para prender a atenção de seu público.

Tudo gira em torno do assassinato de Summer, corretora de imóveis encontrada morta pelo namorado, Will Grade, um grande nome do setor imobiliário no local, em uma das casas que estava vendendo. O investigador responsável pelo caso é o recém-transferido para cidade Tom Nichols, um policial que busca sossego depois de ter problemas com colegas no passado e que agora conta com o apoio do tio de sua esposa, Judy, o também policial, capitão Allen.

Com um elenco estelar, que une Benicio Del Toro como Tom Nichols, o policial protagonista; Justin Timberlake, Alicia Silverstone, Frances Fisher e Eric Bogosian, Camaleões confunde o espectador não apenas com o andamento da trama. Por um tempo, não é possível se ter certeza da época em que o filme se passa, pois a fórmula não esconde sua vontade de lembrar de um passado recente, assim como existe uma demarcação muito clara e talvez proposital das profissões que se emparelham lado a lado. A primeira apresentação de Grade poderia facilmente ter acontecido em um salão de recepções no início dos anos 1990, assim como os investigadores não parecem ter evoluído – em estilo – com o tempo. Nada que não contraste com tudo que os cerca, seja os aparatos tecnológicos ou mesmo a ambientação que vai ganhando outros ares com o prosseguir do filme.

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Singer é eficiente na manutenção e abusa de técnicas e elementos conhecidos para provocar as reações do público. Ele faz um bom uso da trilha sonora, respeitando os silêncios e sabendo quando pontuar com melodias mais graves ou mais frenéticas. O mesmo para a composição dos quadros, em planos posteriores que transmitem a insegurança, e a ausência de luz que ressalta o mistério. A direção de fotografia é de Mike Gioulakis (de Tempo e Nós) e se às vezes se excede, os acertos são muitos e para além dos dois sentimentos, ora se aproximando demais, ora em movimentos muito rápidos, conseguem trazer a claustrofobia e a angústia.

O desfile de personagens e o modo como eles se entrelaçam é curioso, superando a previsibilidade de um roteiro que bebe em uma fonte que já foi explorada demasiadamente e se diferencia nos detalhes. Se há muito daquilo que já foi visto, em análises das cenas do crime, entrevistas com as testemunhas, autópsias e a pessoa estranha acompanhando a investigação de perto; ligações familiares e ligações escusas, amizade e interesse, os sentimentos que se parecem, os momentos que se confundem, e até a individualidade e a vida particular fazem o contraponto

Novos caminhos e possibilidades vão surgindo e é fácil se envolver com Camaleões e suas muitas reviravoltas. À medida que as novas revelações vão surgindo e Tom vai se afundando na investigação, se entregando ao caso, Singer vai trazendo mais ação à trama e aumentando a ansiedade. O filme, que tinha seus momentos de alívio e prendia pela tensão pontual, passa a alternar entre sensações e ganha outra intensidade. É como consegue prosseguir mesmo depois que se conhece a verdade, num crescente de tensão até os minutos finais.

Porém, embora haja muita habilidade técnica e uma trama envolvente, o filme dá suas escorregadas e, por muitas vezes, está mais preocupado com a estética do que com o conteúdo. Há ainda alguns abandonos de personagens, como é o caso de Dan Cleary (Ato Essandoh), parceiro de Tom por vezes relevante, por vezes completamente ausente, e facilitações bem estereotipadas. Mas nada que diminua e prejudique a capacidade que Camaleões tem de prender e divertir não apenas o espectador que gosta de thrillers policiais. Nem mesmo sua longa duração chega a ser um problema.

Não deixa de ser algo muito parecido com o que já foi visto antes, mas em um mundo onde o cinema se repete de maneira gratuita e preguiçosa, ver um filme como Camaleões, que consegue encontrar caminhos e meios para se distinguir é sempre uma boa surpresa. Depois de todo o sucesso no mundo da música, Singer estreia bem com longas-metragens.

Um grande momento
O sonho

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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1 Comentário
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Marcos Rabelo
Marcos Rabelo
29/09/2023 22:26

Doce, suave, atrevida e e harmoniosa… uma bela sinopse, profunda e sem spoilers… obrigado Cecília, por compartilhar sua sabedoria!

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