Crítica | Outras metragens

Catarata

O destino dos esquecidos

(Cataracte, FRA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Faustine Crespy, Laetitia de Montalembert
  • Roteiro: Faustine Crespy, Laetitia de Montalembert
  • Elenco: Özay Fecht, Ferdinand Niquet-Rioux, Samuel Bousbib, Marie Agnès Brigot
  • Duração: 13 minutos

Nicky não vai receber os 450 euros de volta e chegou naquele ponto de desespero em que não vê mais saída. Ao lado dela, tem a sua fiel escudeira, Izy, uma buldogue francesa velhinha já com catarata que não a abandona. A primeira parte do curta de Faustine Crespy e Laetitia de Montalembert é sobre essa relação e a vontade de encontrar um lugar para a cachorrinha ficar na hora em que a imigrante não estiver mais lá.

Melancólico, o filme fala sobre solidão, negligência e a falta de oportunidade desse mundo capitalista, que relega cidadãos ao desespero. As diretoras são bem incisivas em demonstrar a falta de opções da protagonista em silêncios, pausas e ambientes escuros, mas a desolação do filme vem temperada por um humor ácido, que se concretiza em tentativas frustadas e no surgimento de personagens que vêm para reafirmar o sistema.

Como quando a vizinha surge na porta para trazer Izy de volta ou quando o assistente social surge para fazer sua fiscalização. Começando no emprego, em sua primeira visita, ele não parece estar ali para cuidar e atender aqueles que necessitam, na verdade quer saber de papéis e comprovantes, mas a relação que vai se estabelecendo entre eles, facilitada por Izy, é interessante.

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Nicky é alguém que passou anos da sua vida naquele lugar, em seu carrossel entretendo as pessoas e as fazendo rirem. Agora está ali abandonada, sem esperanças e futuro, numa casa remendada e com uma cadela ficando cega que expõem o seu estado atual. Já Jacques está empolgado com seu novo emprego, mesmo ali vendo aquilo tudo, rindo ao telefone e sem se importar.

Özay Fecht e Ferdinand Niquet-Rioux funcionam muito bem juntos e há uma transformação dos personagens à medida que o filme vai passando. A mulher transita entre vários sentimentos e Niquet-Rioux é ótimo na representação de alguém que foi desconectado e aos poucos vai recobrando a consciência, até se reencontrar. Enquanto vemos tudo isso em Catarata, é na metáfora de um ser que está perdendo a visão que as coisas vão se encaminhando. Não do jeito mais feliz, mas se encaminhando.

Um grande momento
O final

[13º MyFrenchFilmFestival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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