- Gênero: Ação
- Direção: Daniel Calparsoro
- Roteiro: Yann Gozlan, Guillaume Lemans, Simon Moutairou
- Elenco: Àlex Monner, Carlos Bardem, Begoña Vargas, Patricia Vico, Édgar Vittorino, Adrían Garín
- Duração: 89 minutos
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Rafa é um piloto de corrida de moto, que já não está mais tão jovem pra ser considerado uma revelação da área, mas cujo ímpeto auto destrutivo parece seguir, impedindo que seja notado. O cara é multitarefas: além do sonho de se consagrar na sua área, o rapaz ganha o pão em uma empilhadeira no cais do porto, é pai de um pequeno menino que precisa cuidar enquanto a mãe tenta arrumar e emprego e acaba de se envolver com o tráfico de drogas. Para salvar a ex-namorada, ele passa a transportar cocaína de uma fronteira a outra, trazendo mais um problema para sua vida, aumentando a adrenalina e tendo ele mesmo que se drogar para aguentar a jornada tripla. Esse é o ponto de partida de ‘Centauro’, estreia de hoje da Netflix tão preguiçosa quanto se imagina ao ler essas linhas acima.
O diretor Daniel Calparsoro tem outras produções no gigante do streaming, como ‘O Aviso’ e ‘O Silêncio da Cidade Branca’, todos os outros melhores e mais relevantes que esse lançamento. Remake de um filme de 2017 chamado ‘Burn Out’, o filme parece um misto de ‘Dias de Trovão’ com ‘Flashdance’ e mais uma trama criminal nada interessante ou original, a produção tem um público bem amplo pra agradar, e eventualmente o fará. Em tese, não há nada fora do lugar em seu desenvolvimento, pelo contrário; ‘Centauro’ se assemelha a uma massa de bolo de caixinha, daquelas que só precisamos misturar com ovos e leite e levar ao forno. É um produto garantido, sem riscos, mas com uma certa carga de excitação por parte de uma realização competente, mas sem qualquer novidade.
As cenas de ação são protagonizadas por motos Kawasaki, provavelmente patrocinadora da produção em ação de marketing eficiente para sua marca. São sequências realizadas com qualidade técnica, mas que são acompanhadas por uma narrativa anêmica, sem qualquer charme extra do que já esperamos. A partir dessa condução mecânica, que não suscita qualquer discussão especial a não ser um investimento vazio, mais um material descartável para consumo rápido e esquecimento ainda mais. Vale (ou não) a assistida igualmente automatizada de um público que ainda está refém de um grupo de filmes que não têm muito a dizer, mas tem uma parcela de mercado a cumprir – apenas movimentar a plataforma em uma quarta-feira qualquer de junho.
Um dado que precisa ser realçado negativamente de ‘Centauro’ é a motivação de Rafa, o personagem central. O pretenso campeão de motociclismo se mete em todas as furadas possíveis para ajudar a mulher amada e retomar os laços familiares com ela e seu filho, mas o filme em qualquer momento consegue nos convencer dessa conexão entre eles. Rafa não tem um grande momento com o filho; na verdade ele só tem um momento com o menino, literalmente sem qualquer química entre pai e filho. Não se trata de falta de talento entre os atores, mas de ausência de ocupar a narrativa com tais informações, que parecem não interessar ao filme. O filme dá maior valor a forma como o protagonista lida com essa jornada dupla e seu vício em estimulante. A pergunta: essas coisas são bem desenvolvidas pelo roteiro? Nenhuma delas, tudo fica meio solto, sem amarração ou continuidade.
Quando um filme se ancora em uma motivação e não consegue desenvolver minimamente o gancho para essa questão, o que sobra de uma produção? Como já dito, o elenco de ‘Centauro’ não tem qualquer culpa no acontecido, mas também nenhum deles precisa se esmerar em nome de um roteiro tão capenga. Todos os personagens em cena parecem volantes para um veículo cujo destino é apenas o entretenimento rasteiro, com suas cenas eficientes porém desprovidas de personalidade. Essa é uma característica que persegue o filme como um todo, nada faz de ‘Centauro’ uma experiência especial ou marcante. Produto genérico para um público que não se interessa por mais que isso, e quem quiser ir além, a reclamação é garantida.
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