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Cidadão Boilesen

(Cidadão Boilesen, BRA, 2009)

Sempre que se pensa que no cinema tudo já foi dito sobre a ditadura militar, outras abordagens chegam para mostrar que ainda há muita sujeira embaixo do tapete. Cidadão Boilesen trata, principalmente, da participação do empresariado brasileiro no golpe e na manutenção do poder militar.

Para chegar à questão, o diretor Chaim Litewski elege uma das figuras do alto-empresariado da época e decide contar sua história a partir de uma rua que, mesmo sem que seus moradores saibam exatamente o porquê, leva o nome do tal sujeito.

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Henning Albert Boilesen era dinamarquês de nascença, naturalizado brasileiro e presidente da Ultragás. Ele é acusado por militantes revolucionários de financiar a Operação Bandeirante, que deu origem aos temidos e sanguinários DOI-CODI, e de estar presente em várias sessões de tortura.

A história chega até a execução do empresário, a tiros, por dois movimentos de esquerda da época.

Com um excelente trabalho de pesquisa, que durou mais de quinze anos, o filme mescla depoimentos de colaboradores civis e militares, amigos, familiares e até de um dos militantes envolvidos na morte de Boilesen com fotografias e imagens resgatadas daquele momento histórico.

Sem se perder no ritmo e sem cair nas armadilhas de documentários que apostam nessa linguagem, Cidadão Boilesen cresce na medida certa e sabe como terminar bem. Sem apelar para o didatismo e sem forçar a barra, o filme constrói uma relação com quem o assiste e consegue alcançar um público bem diversificado.

A história contada, como todos sabemos, é triste, mas é fundamental e demonstra que tudo aquilo que acontecia não era, como se diz, militar. Muitos civis influentes, vários deles citados no filme como Amador Aguiar e Sebastião Camargo, foram tão ou mais responsáveis pelas torturas e pela perseguição da época.

Um jornal, que hoje se diz “plural” e que classifica a passagem histórica como “ditabranda” também é citado como colaborador do esquema e, do lado dos que não quiseram participar daquele absurdo, só sobram Antônio Ermírio de Moraes e José Mindlin.

A maioria dos depoimentos acusa Boilesen e só mesmo seu filho parece sair em sua defesa, o que pode deixar a sensação de que o filme é parcial, mas, na verdade, demonstra uma outra qualidade do documentário, que descobre esse homem como um ser que tem seu lado obscuro e nem sempre é aquilo que aparenta ser.

Além de ser uma aula de história, é um curioso estudo sobre estas faces ocultas do ser humano

Daqueles que todos devem assistir.

Um Grande Momento

A análise de FHC é muito boa.

Documentário
Direção: Chaim Litewski
Roteiro: Chaim Litewski
Duração: 92 min.
Minha nota: 8/10

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
3 Comentários
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Vulgo Dudu
Vulgo Dudu
11/12/2009 23:35

Acho que docs históricos nunca são demais. Quanto mais material sobre a ditadura, melhor. É possível reconhecer traços autocráticos em muitos líderes políticos do país. Muitos! Quero muito conferir esse documentário!

Bjs.

Vinícius P.
Vinícius P.
11/12/2009 20:51

A temática em questão já não me interessa tanto (como comentou, é algo muito trabalhado pelo cinema nacional), mas como a abordagem é diferente, talvez veja.

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