- Gênero: Fantasia
- Criador: Carlos Saldanha
- Canal: Netflix
- Elenco: Jéssica Córes, Samuel de Assis, Manuela Dieguez, Alessandra Negrini, Marco Pigossi
- Temporadas: 1
- Duração: 40 minutos
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O Brasil tem muitos momentos em sua história que evidencia seu espírito auto-predador e muito hostil que tende a empregar violência e espetáculo de truculência com certo apoio de toda camada da sociedade. As lendas do folclore brasileiro evidenciam muito bem este perfil cruel e colocam, em geral, a vítima como protagonista mitológica que promove justiça. E é com esse tapa na cara e um lindo trabalho de Carlos Saldanha que Cidade Invisível, série brasileira original da Netflix, ganha o mundo.
A suspeita de relação entre a morte de sua esposa e o aparecimento de um boto rosa na praia coloca o policial florestal Eric (Marco Pigossi) de frente com uma realidade desconhecida, que coloca entidades mitológicas convivendo em segredo com todos que o cercam. A forma como ele lida com essa descoberta, a investigação bastante peculiar e o luto dá o tom dramático e tenso da trama, o que leva a qualquer um a viciar rapidinho.
No mundo dos já mortos os personagens são bastante complexos e trazem a imediata vontade de ir para o Google ver qual é a lenda relacionada. A metáfora é muito bem empregada e coloca Cuca, Saci, Curupira e outros numa trama de perseguição, crueldade e destruição que expõe a ganância e seu lado perverso. Além disso, traz as lendas em situações muito vulneráveis, em alguns casos, e nenhuma em uma condição sócio-econômica muito favorável.
Cidade Invisível traz, ainda, à reflexão que os mitos folclóricos brasileiros, em geral, são vítimas de alguma violência ou injustiça extrema, mortas em condições subumanas e que voltam do mundo dos mortos transmutados e com intenção de impedir que novas injustiças semelhantes ocorram. Aí cada figura tem uma personalidade, um jeito de pensar e fazer as coisas e um tipo de poder sobrenatural.
A fantasia trazida pelo experiente Carlos Saldanha (co-diretor de A Era do Gelo e Robôs, e o diretor de A Era do Gelo 2, A Era do Gelo 3, Rio e Rio 2) misturada com a ousadia da crítica severa e a sóbria e profunda modernização da mitologia brasileira que traduz um desejo (inconsciente, mas coletivo?) de preservar e dar um basta em tanta destruição gratuita. De uma beleza metafórica e simbólica que pouco se vê, mas que em momentos como esse de nossa história marcam o extermínio e a desesperança como resultados do conformismo.
Uma série para ver com toda a família, para discutir com o pessoal dos grupos e para refletir sobre como sempre fomos violentos e predadores, ao mesmo tempo que vítimas incansáveis vezes do ciclo que já os livros e as avós nos traziam em suas histórias cheias de quimeras, medo e injustiças.
O Melhor Episódio
T1E5 – Você não vai acreditar em mim