Crítica | Festival

Witch Hunt

Para as meninas

(Witch Hunt, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Elle Callahan
  • Roteiro: Elle Callahan
  • Elenco: Gideon Adlon, Elizabeth Mitchell, Abigail Cowen, Christian Camargo, Lulu Antariksa, Ashley Bell, Cameron Crovetti, Anna Grace Barlow, Bella Shepard, Jess Varley, Treva Etienne, Assaf Cohen, Nicholas Crovetti, Regi Davis
  • Duração: 92 minutos

Imaginem que a magia é real e que a caça às bruxas, com toda a sua crueldade e genocídio, nunca terminou. Esse é o presente imaginado pela diretora e roteirista Elle Callahan em seu Witch Hunt, tendo como referência imagens passadas de perseguições de todos os tempos, desde a inquisição até a prisão de imigrantes ilegais, passando pela caça aos judeus na Segunda Guerra. Com uma levada juvenil, nessa alegoria, ela fala sobre a manutenção do machismo, rede de apoio e combate a governos tiranos que não aceitam o diferente.

Claramente atual, o filme confunde o transitar entre os tempos com seus personagens em suas vestimentas e acontecimentos pela dificuldade de aceitar que hoje em dia seja possível que uma mulher seja queimada em uma fogueira ou que exista uma divisão governamental que persiga mulheres e meninas que possam ser bruxas. As roupas de alguns personagens lembram séculos passados (o figurino é assinado por Joanna David,  responsável por Offseason, também apresentado na SXSW 2021) e incentivam essa percepção. É como se o tempo não passasse em certas questões, por mais que as coisas tenham mudado — olha! Elas duas podem ir ao bar sozinhas — a perseguição e a vontade de dominação ainda é a mesma. 

Como não poderia deixar de ser,  Witch Hunt é um filme feminino. Toda a trama de Callahan circunda círculos de mulheres que se unem na figura de Claire, vivida por Gideon Adlon: a família, o grupo de amigas da escola e as novas amigas. A história se equilibra entre o coming-of-age com as reafirmações, rupturas, curiosidades naturais da fase e o terror. Este se divide entre o sobrenatural, que cai na armadilha de mostrar mais do que precisa, mas não é de todo ruim, e o horror humano, com os testes, os métodos de evitar fugas e a execução.

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Tratando de questões muito relevantes, o filme tem uma abordagem muito leve e opta por uma linguagem jovial, quase ingênua. Witch Hunt assume desde o começo que sua intenção é passar uma mensagem à nova geração, falar diretamente com as adolescentes sobre o que é ser mulher neste mundo, o histórico de perseguições e a necessidade de se identificar enquanto grupo que precisa se apoiar sempre. A escolha do elenco, com Adlon e e Abigail Cowen, ambas com produções no mundo das bruxas na filmografia — a primeira com Jovens Bruxas: Nova Irmandade e a segunda com O Mundo Sombrio de Sabrina — ajuda bastante nessa aproximação. E não há como negar que as duas têm carisma e química em cena.

Com alguns sustos, momentos de descoberta que fortalecem a identificação e assim compartilham sua mensagem, Witch Hunt diz ao que veio. Um filme para ver com a família, que tem lá os seus defeitos, mas que tem muitas coisas positivas e atinge os seus objetivos, assustando quando tem que assustar e entretendo aqueles que a ele se entregam. 

Um grande momento
No bar

[SXSW 2021 – Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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