- Gênero: Animação
- Direção: Luma Flôres
- Roteiro: Luma Flôres
- Duração: 8 minutos
-
Veja online:
É difícil imaginar que Luma Flôres esteja em sua estreia na direção aqui em Como Nasce um Rio. Isso porque não são apenas sensibilidade e delicadeza que exalam do filme, mas a criatividade que parte da obra, e um senso estético raro oriunda de uma animação curtíssima; são apenas 8 minutos que nos atravessam por horas. Ao fim da breve sessão, a ideia de estar de novo diante da criatividade de Luma provoca certa ansiedade. Quanto tempo precisaremos esperar para reencontrar uma cineasta que mal nasceu, e já criou um olhar tão especial diante do que quer contar?
O filme venceu sua categoria no Panorama Coisa de Cinema, e o resultado independe da forma como nos relacionamos com a obra em questão; esse é um dado puramente informativo. Luma constrói um olhar de profunda liberdade sensorial, e em tão pouco tempo, a concisão acaba sendo parte integrante do projeto. Como Nasce um Rio pretende comunicar o maravilhamento da auto descoberta, e da posterior descoberta do outro, do corpo e do desejo. Encontrar não apenas uma comunicação que nos una a outras pessoas, como também nos identifique enquanto seres semelhantes no que nos constitui e forma.
Além do que está na superfície da imagem, Como Nasce um Rio também investiga os símbolos propostos nas entrelinhas. Alguns, por exemplo, conectam a força da natureza à uma energia feminina e selvagem que recusaria alguma doma, ou qualquer laço que o doutrinasse. Está na base dessa discussão a bela forma como o filme aborda as descobertas de sua protagonista em busca de um novo espaço de conexão, de encontro com seu próprio reflexo, encontrar a segurança e o conforto ao mesmo tempo, em um lugar de reconhecimento. O caminho da protagonista, que invade uma nova geografia em busca de si, é uma das muitas belezas aqui.
A forma como a autora descortina a natureza para aproximá-la do humano, unindo os dois conceitos, cria momentos de beleza quase exasperante, como quando a protagonista se aproxima da moita que revela uma cachoeira. Isso não é só uma das imagens mais fortes de Como Nasce um Rio, como observa a cultura de hoje da linguagem imagética criada por memes e gifs. Isso não vulgariza a obra, mas a coloca para conversar com o mundo que vivemos. É, a um só tempo, generoso e profundamente respeitoso com o espectador, sem diminuir o poder de comunicação que a obra é capaz de alcançar.
Sem deixar de encantar com o admirável mundo novo que se forma ao redor de sua personagem central, Como Nasce um Rio é um trabalho que apresenta não apenas uma nova autora ao cinema brasileiro, mas que nos prepara para uma voz que fará diferença, em um futuro próximo. Ao encontrar a simbiose entre poesia, encanto, uma voz moderna para o um mundo audiovisual em transformação e uma autoria que se revela porta-voz de uma fatia queer muito bem-vinda, o filme e sua diretora escancaram a necessidade de reconhecimento dentro de espaços dominados por outras vozes. Ao final da breve sessão, a ideia de ter compartilhado uma gama profunda de experimentações não cessa; o verdadeiro encontro com o futuro.
Um grande momento
A cachoeira