Crítica | Streaming e VoD

Conferência Mortal

Ambiente de trabalho

(Konferensen , SUE, 2023)
Nota  
  • Gênero: Terror, Comédia
  • Direção: Patrik Eklund
  • Roteiro: Patrik Eklund, Thomas Moldestad
  • Elenco: Katia Winter, Adam Lundgren, Maria Sid, Amed Bozan, Christoffer Nordenrot, Bahar Pars, Claes Hartelius, Eva Melander, Lola Zakow
  • Duração: 101 minutos

Seguindo a programação de filmes de terror em homenagem à tradição de outubro, a Netflix lança o sueco Conferência Mortal, que assim como Dezesseis Facadas, lida com o horror ‘slasher’ trazendo o humor para dentro da narrativa. É o caso de se perguntar se aquele universo oitentista, hoje, não tem como ser levado a sério; personagens como Jason Voorhees e Michael Myers, ou a chegada de uma franquia como Pânico, acabou mudando as diretrizes do subgênero. O fato é que esses dois títulos de pegada distinta tem como semelhança as muitas soluções cômicas para seu entrecho. Apesar disso, são filmes com olhares para faixas etárias diferentes – na produção da Prime Video, o foco é o tradicional adolescente, enquanto aqui são adultos os seus protagonistas, assim como seu pano de fundo. 

Adaptado do romance de Mats Strandberg e dirigido por Patrik Eklund, Conferência Mortal é um chamado para as relações humanas através do trabalho. A bem da verdade é que seus personagens, com raras exceções, se odeiam e querem que se danem uns aos outros. Ou seja, qualquer um ali poderia ser um assassino em potencial livrando-se de seus desafetos; é um grupo que já contou com ataques violentos no passado internamente, e de maneira fora do comum, é mais uma vez vítima de violência. É interessante que o filme, em nenhum momento, proponha a desconfiança em relação à identidade do mascarado, tendo em vista que a animosidade é assumida e exposta entre eles. Seus personagens querem sobreviver e fugir daquele lugar, que é um ponto de extração geográfica; estamos diante de uma retroalimentação de horror coletivo, que começou com uma desapropriação compulsória. 

Esse clima de constrangimento e pressão psicológica está em cena desde a abertura, que vai fornecendo ao espectador motivos para também ele desaprovar o que vê e a própria estadia ali. Lina é uma protagonista que acabou de voltar de um colapso trabalhista, graças ao ambiente tóxico que sua empresa apresenta a funcionários que trabalham decentemente e que são poucos. Sua presença é diminuída constantemente, em demonstrações óbvias de machismo corporativo e tentativa de menosprezar talentos emergentes. Em linhas gerais, Conferência Mortal é um retrato de tantos ambientes de trabalho que agregam doenças psicológicas a seus funcionários, e aqui tais questões são substituídas por um agente do caos externo. 

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O trabalho de Eklund é dinâmico e consegue capturar o melhor que o gênero pode oferecer, mas não é necessariamente algo que seja inédito. Está tudo no seu lugar em Conferência Mortal, da melhor forma possível, mas não é suficiente para que esse filme seja elevado a algo maior do que já vimos tantas vezes. Entretém, sem dúvida, mas é uma zona confortável do qual o filme abraça e não tenta inventar a pólvora; isso é bom para o espectador, que também encontra algo do qual tem controle em mãos, mas não se sobressai ao que de melhor pode ser entregue. Um exemplo é exatamente o filme que citei no primeiro parágrafo, muito mais elaborado do que esse grupo tradicional de ideias. Ainda que as ideias sobre o sistema de trabalho movimentem sua voz, é pouco para se mostrar fresco. 

Existem alguns momentos bem fortes em Conferência Mortal e talvez o maior deles seja no diálogo particular entre Lina e Jonas, no quarto dele. O corpo explorado de Adam Lundgren, a forma como ele está entregue naquele momento, e o que Eklund vai construindo sobre esse encontro, é ao mesmo tempo impressionante (do ponto de vista estético) e muito nojento. O reencontro desses personagens, que travam uma batalha silenciosa o filme inteiro, também é surpreendente e acaba por mover todo o filme; é a base de sustentação de toda a narrativa. Não é suficiente para elevar sua condição de entretenimento, mas coloca uma cereja dupla em cima desse programa de ‘Dia das Bruxas’ antecipado. 

Um grande momento

A corrida pela floresta, com Lina e Jonas

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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2 Comentários
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thiago trivelato
thiago trivelato
26/10/2023 13:57

Vou dar uma chance para esse filme, amo terror>

Joaquim
Joaquim
16/10/2023 21:50

Top 5 de piores filmes que já vi na vida.
Conferência do mau e a cabeça do meu p**

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