Crítica | CinemaDestaque

Contra o Mundo

Excessivamente oco

(Boy Kills World , EUA, ALE, AFR, 2024)
Nota  
  • Gênero: Aventura
  • Direção: Moritz Mohr
  • Roteiro: Tyler Burton Smith, Arend Remmers, Moritz Mohr
  • Elenco: Bill Skarsgard, Famke Janssen, Jessica Rothe, Michelle Dockery, Brett Gelman, Sharlto Copley, Andrew Koji, Isaiah Mustafa, Yayan Ruhian, Quinn Copeland
  • Duração: 111 minutos

A ânsia de parecer moderno, cool, radical, e chamar a atenção da juventude que habita no nosso tempo dispositivos como o Tiktok e Reels do Instagram tende a começar produzir filmes que se pareçam com esse Contra o Mundo, produção que está estreando em várias partes do mundo neste fim de semana. O que esses títulos têm a oferecer, além de cortes rápidos, violência artificial de CGI, lutas extremamente coreografadas e um visual ultrapop, é algo que não conseguimos mensurar. Produzido por Sam Raimi, nos perguntamos se há muito dinheiro sobrando na conta do diretor dos Evil Dead originais, porque a sensação de vazio ao sair da sessão não tem como evitar. Não é como se estivéssemos diante de um título ruim, apenas algo cujo excesso de estímulos acaba por provocar a inércia do público.

Essa é a estreia na direção de longas de Moritz Mohr, um profissional que estava há 13 anos sem lançar nada novo, e só tinha anteriormente uma série de tv e três curtas no currículo. A julgar por essa experiência, suas credenciais deveriam ser reexaminadas para um próximo projeto, porque fica a impressão ao sair daqui que esse é um projeto criado pelo ChatGPT. Apesar de seu nome constar também entre os roteiristas, Contra o Mundo parece sustentar o que grandes empresas creem que seja o interesse do espectador de hoje, aquele ávido por uma narrativa clipada cuja necessidade de conexão seja mínima. O resultado é uma obra que não consegue ficar com quem o assiste, mesmo apresentando uma infinidade de elementos. 

É uma profusão de cores, de situações, que se empilham em uma narrativa que não consegue sustentar nem o interesse e nem as suas bases. A todo momento, Contra o Mundo parece mudar o rumo do que estamos assistindo, acrescentar novos personagens e permitir reviravoltas, anestesiando qualquer interesse. A vontade de parecer descolado induz a uma espiral de violência quase ininterrupta, que acaba não representando nenhuma gravidade, porque as bases da situação são do universo de HQs, mas sem qualquer criatividade estética que comprometa a produção. Um filme que não é brilhante como Trem Bala é muito mais interessado em provocar a imersão do espectador do que essa falsa experiência aqui, que simplesmente se esvai assim que as luzes se acendem. 

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Existem dois atores muito empenhados no projeto, que acabam por mostrar ao público o que poderia ser feito com um pouco de dedicação. Bill Skarsgard é um ator que ainda não tinha me convencido de seu potencial, mesmo após sua encarnação de Pennywise em It. Aqui, quando a totalidade parecia perdida, ele se empenha ao máximo para entregar o melhor de si como o jovem órfão disposto a uma vingança implacável. Como um dos muitos vilões do filme, Brett Gelman (de Metal Lords) também brilha nos momentos em que o filme se dedica ao seu tipo, uma figura que têm seus textos ridicularizados pela família. Se Contra o Mundo fosse mais justo com Jessica Rothe (de A Morte te dá Parabéns), creio que ela estaria junto aos rapazes. 

O elenco, no entanto, não é suficiente para fazer o interesse por Contra o Mundo ser viável, que além de tudo ainda trabalha com uma moral da história (!) de fundo bem duvidoso. Isso da violência acabar igualando mocinhos e bandidos a ponto de todos parecerem uma coisa só, é uma forma de punir igualmente quem teve perdas e quem as provocou. O que é colocado em cheque, no fim das contas, é o quanto tais elementos viciados transformam a narrativa em um conto que relega o Bem e o Mal para o mesmo barco. Se em tese isso é ousado e oportuno, a forma como o filme embaralha tais elementos não deixa muita margem para o debate, deixando à mostra somente o que é sensorial; é pouco para bancar uma polêmica. 

O mais decepcionante é pensar que esse é um projeto que homenageia muitas imagens icônicas dos quadrinhos (Akira, por exemplo), tem uma base que poderia ser desenvolvida com mais sucesso, mas que não entende que mesmo dentro de um universo feérico, uma lógica interna precisa existir. Em Contra o Mundo, não há nada parecido com isso, e o filme é uma sucessão de imagens espalhafatosas em cenários que giram ora pelo delirante, ora pela falsidade. O fogo interno que reside em seu protagonista parece ter consumido qualquer oportunidade de criar uma mitologia particular a algo que ansiava muito por isso. 

Um grande momento

O Abate

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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