Crítica | Streaming e VoD

Correndo Contra o Tempo

(Don't Let Go, EUA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Jacob Estes
  • Roteiro: Jacob Estes, Drew Daywalt
  • Elenco: David Oyelowo, Storm Reid, Mykelti Williamson, Alfred Molina, Brian Tyree Henry, Shinelle Azoroh, Byron Mann
  • Duração: 103 minutos

Todos os filmes sobre lapsos temporais onde informações do futuro podem mudar o passado (e vice-versa) já foram feitos. Essa é a a impressão ao assistir Correndo contra o Tempo, cansativa produção da Blumhouse – a produtora da moda, pós-Corra! – que até tem uns trunfos na manga, mas que não incita qualquer nova discussão ou parêntesis sobre o assunto. Você já viu e se divertiu com esse filme antes, algumas vezes por ano, agora inclusive sendo produzido em inúmeros países diferentes, e esse lançamento de hoje da plataforma Telecine volta a entreter, porém ao não trazer nenhuma nova camada ao molho que já vimos produzido, se lança para o esquecimento tão logo encerre sua projeção.

Produzido e protagonizado pelo muito talentoso David Oyelowo (de Selma e Um Reino Unido), o filme acompanha o luto de um policial que perde toda a família num massacre, e se espanta ao receber o telefonema da sobrinha que também morreu. Pior: ela aparenta não fazer ideia do que aconteceu. Logo ele percebe que ela lhe liga do passado, e ele pode assim não apenas impedir suas mortes como tentar descobrir os responsáveis pelo evento trágico. Eventualmente sua sobrinha lhe procura (ao menos duas vezes) e esse encontro, da menina com informações privilegiadas com ele mesmo ainda com desconhecimento do futuro, altera as linhas do tempo e promove o rearranjo dos destinos.

Correndo Contra o Tempo

Como em filmes do gênero, essa mudanças extremamente sutis não acabam por transformar o fim da linha – a conclusão dos fatos ainda levam ao massacre. E o filme, que não tem a seu favor qualquer frescor narrativo, acaba por negligenciar situações banais, a ponto de criar pontos de ruptura narrativos, onde personagens agem exatamente como o roteiro quer que eles ajam, e não de acordo com suas naturezas. Daí nascem as incongruências que vão minando o filme até em aspectos da experiência filmica, perdendo assim mais do que o interesse pelo seu desenvolvimento, mas principalmente incomodando o espectador que percebe as rasuras do material desenvolvido.

Apoie o Cenas

O resultado é uma experiência falha enquanto passatempo, que gradativamente irrita mais que entretém. Como convem ao filão do qual faz parte, a narrativa que corre em dois tempos deveria se alterar e anular mutuamente, mas o roteiro do diretor Jacob Aaron Estes confunde, embaralha e se atrapalha mais do que elucida, o que até é uma característica dos longas do gênero, mas um filme absolutamente esquecível como Alta Frequência resolveu as mesmas situações com até uma certa plausibilidade, dentro da proposta. Em Correndo contra o Tempo, o detetive Jack recebe inúmeros telefonemas de sua sobrinha falecida e se esconde para atendê-los ao invés de tentar mostrar algo fantástico e muito óbvio… até o momento que o roteiro pede que ele mostre, do nada. Lógico, se ele o tivesse feito antes, a trama iria por água abaixo.

Correndo Contra o Tempo

O elenco vai além do já citado Oyelowo, e apresenta um grupo de atores que tem talento comprovado muitas vezes antecipadamente ao visto aqui, mas que ou não tem o que fazer por falta de espaço, ou por falta de desenvolvimento dos personagens. Dois exemplos mais específicos são os de Alfred Molina e Brian Tyree Henry. O primeiro, apesar de aparentar ser o superior ao protagonista, aparece apenas duas vezes no filme e a primeira tem 40 minutos, como se tivesse estado em cena antes; o segundo praticamente só existe no comentário alheio, e pessoalmente não parece em nada com o tipo descrito continuamente até o clímax sem qualquer emoção. Isso porque a mãe da protagonista feminina… bom, não tem o que dizer sobre uma personagem que é assassinada e quase não vemos.

A impressão que temos ao assistir Correndo contra o Tempo é que não apenas esse filme foi feito inúmeras vezes antes como em quase todas era melhor, mas que seu elenco inteiro foi desperdiçado mesmo que esbanje carisma e talento quando exigido. Oyelowo e a jovem Storm Reid (de Uma Dobra no Tempo) têm química juntos e nos convencem de sua ligação, mas todo o resto não empolga e não seduz.

Um grande momento:
Tio e sobrinha, na lanchonete.

.

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
Assinar
Notificar
guest

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver comentário
Botão Voltar ao topo