- Gênero: Suspense
- Direção: Nick Stagliano
- Roteiro: James C. Wolf, Nick Stagliano
- Elenco: Anson Mount, Abbie Cornish, Anthony Hopkins, David Morse, Eddie Marsan, Richard Brake, Diora Baird, Chris Perfetti
- Duração: 110 minutos
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Desde o primeiro minuto, é um exercício de paciência tentar engatar algum interesse em torno de Danos Colaterais, que acaba de estrear na plataforma Telecine Play, por conta de uma narração inacreditável que acompanha todos os passos e ações do protagonista. Essa narração cessa em poucos momentos, e ao final, ainda somos presenteados com uma “piadinha” em relação a ela, porém nada tira de si um caráter no mínimo inoportuno, na maior parte das vezes desnecessário e até desabonador. Não estamos versando sobre a adaptação de um Shakespeare, ou do novo filme de Terrence Malick – é só uma produção bem modesta nas intenções, e de resultados ainda mais tacanhos.
O título original da produção, O Virtuoso, certamente não se referiria a seu diretor nem como brincadeira. Nick Stagliano praticamente só dirigiu um filme por década, e esse é apenas o seu quarto trabalho; pelo resultado aqui, deveria continuar… bom, fazendo qualquer outra coisa. Essa narração citada acima é um dos problemas de um filme que, a bem da verdade, “se acha”, como dizem por aí. A tirar pela pretensa densidade com que trata uma situação esdrúxula, com que desenvolve uma premissa até interessante mas sem qualquer novidade, e da forma pomposa com que situa seu quadro de apostas, ele se imagina com as qualidades de um Os Suspeitos, vencedor de um merecido Oscar de roteiro; passa longe de ser o caso aqui.
A verdade é que o roteiro do filme de 1995 era ajudada pela direção de Bryan Singer, na época uma promessa. O roteiro de Danos Colaterais também é de Stagliano, ou seja, ele tem absoluta certeza da qualidade de seu material. Fosse minimamente inteligente, teria injetado humor no seu molho e construído uma farsa divertida, que risse de si mesmo e construísse as relações entre seus “suspeitos” de maneira mais orgânica. Aqui, tudo é disposto de maneira displicente e o espectador não consegue comprar qualquer que seja a intencionalidade do todo. Afinal, se seu protagonista é traumatizado em matar uma inocente no passado, porque continua achando tranquilo matar inocentes no presente?, e essa é apenas uma das questões estapafúrdias que o filme não investiga.
Lá pelas tantas, a narração incômoda e o rolo compressor assassino que vamos acompanhando faz surgir uma outra questão que poderia ter sido aproveitada pela produção, mas que certamente nem aventada foi. Ora bolas, o tal Virtuoso protagonista nada mais é do que um serial killer – sim, daqueles bem óbvios mesmo, que mata sem emoção, não nutre empatia por absolutamente nada (detalhe esse que precisa ser observado em pelo menos um dos encontros dele), não tem vínculo emocional com coisa alguma. Esse dado é interrompido quando ele vê uma mulher em chamas que passa a persegui-lo, porém não vou ficar aqui dando dicas para o filme que Stagliano poderia ter feito, e não fez. Uma pena.
No lugar dessa produção minimamente interessante, temos um jogo quase sonolento entre o que esse homem faz e o que o move, através dessa consciência fajuta, e que nada mais é do que uma prova de sua frieza diante dos fatos. Nada é muito relevante e a maior parte dos eventos é tratada de maneira tão distanciada que o espectador não consegue comprar tensão oriunda dos acontecimentos, apenas a apatia típica que o próprio personagem destila, que não é ajudado por Anson Mount, ator que nunca deu certo por suas próprias deficiências e cuja estampa nunca escondeu a verdade: ele nasceu para estar em Danos Colaterais.
Ele e mais ninguém, porém infelizmente Stagliano tem uma lábia do cão e conseguiu convencer Abbie Cornish (de Brilho de uma Paixão), Eddie Marsan (de Simplesmente Feliz) e David Morse (de À Espera de um Milagre), que têm tudo que falta a Mount, para estar aqui, desperdiçando seu talento em uma produção que não os merece. E o que dizer de Anthony Hopkins, recém vencido seu segundo Oscar e já se queimando mais uma vez… ao menos a ele foi dispensada uma bela cena, um monólogo de uns 7 minutos sobre seu passado como soldado ao lado do pai do Virtuoso, que acontece por volta dos 20 minutos iniciais. Vale a pena assistir Danos Colaterais até aí, por mais um show de humanidade de Hopkins; o resto, é uma tentativa furada de ser mais do que se têm capacidade.
Um grande momento
O monólogo no cemitério
Crítica bem ridícula. Entendeu todos os 200 filmes que mencionou, menos o filme “Danos Colaterais”