Em 2009 o Cenas de Cinema esteve presente em cinco dos mais importantes festivais de cinema do país. Passando por Gramado, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, foram conferidas mais de 200 produções dos mais diversos gêneros e nacionalidades.
Diferente dos anos anteriores, quando a idade e a memória permitiam um número insano de filmes vistos, houve tempo para circular entre os bastidores dos eventos, conhecer pessoas e, o mais importante, digerir melhor tudo aquilo que foi visto.
Entre as muitas sessões, como sempre acontece, experiências inesquecíveis se misturaram àquelas desnecessárias e saldo final acrescentou muito à bagagem cinematográfica que só mesmo a presença nas salas pode dar a alguém.
37º Festival de Cinema de Gramado
Marcado pela incoerência de um prêmio à Xuxa Meneghel por sua contribuição ao cinema, independente de toda a polêmica envolvendo o título Amor, Estranho Amor com distribuição proibida pela própria; o altíssimo preço dos ingressos e o desfile diário de subcelebridades, o festival mais glamuroso do circuito trouxe uma seleção de títulos latino-americanos superior à nacional.
Entre os destaques, o sensível e apaixonante Gigante, de Adrián Biniez, e o não menos envolvente La Teta Assustada, de Claudia Llosa. A qualidade se manteve no documentário de Fernando Solanas, A Próxima Estação, sobre a malha ferroviária argentina, e no belo e feminino drama Chuva, de Paula Hernandez.
Da produção nacional, Corumbiara emocionou a platéia ao contar o massacre dos índios em Rondônia e a busca do seu diretor, Vicente Carelli, por sobreviventes para contar a história. Estréia na direção de Helena Ignez, eterna musa do cinema novo, Canção de Baal, apesar da inconstância, trouxe um ar novo a tudo que se produz por aqui hoje em dia, assim como Corpos Celestes, que na parceria de Marcos Jorge e Fernando Severo brincou de quebrar as estruturas padrões.
Entre os curtas, destaque para a inovadora animação Josué e o Pé de Macaxeira, de Diogo Viegas; o divertido A Invasão do Alegrete, de Diego Müller, e o bonitinho conto infantil Ernesto no País do Futebol, de André Queiroz e Thaís Bologna. A inovação estilística também chamou atenção para o documentário Olhos de Ressaca, de Petra Costa, um dos mais premiados do ano, assim como a sensibilidade da história de O Teu Sorriso, de Pedro Freire, que marcou presença no Festival de Veneza e em vários outros festivais do país.
Alguns títulos, porém, decepcionaram e outros não conseguiram chamar atenção, como os longas Quase um Tango…, de Sérgio Silva e Nochebuena, de Maria Camila Loboguerrero.
Com dois títulos promissores selecionados para a abertura e o encerramento (Aconteceu em Woodstock, de Ang Lee, e Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino, respectivamente), o Festival do Rio levou muita gente para dentro das várias salas de exibição espalhadas pela cidade. Em sua programação vários títulos muito esperados e algumas boas surpresas, além da presença de grandes realizadores, como os cineastas Agnés Varda e Juan José Campanella, entre outros.
Como o número de filmes é muito grande, impossível falar de todos que cumpriram as expectativas e daqueles que poderiam ter ido melhor do que foram, mas alguns merecem ser citados.
Dos longas brasileiros fora da competição, os destaques ficam para o drama juvenil Antes que o Mundo Acabe, estréia de Ana Luiza Azevedo que já tinha chamado a atenção no Festival de Paulínia, e o documentário Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski sobre a participação do empresariado na ditadura militar.
Entre os concorrentes ao Troféu Redentor, O belo Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho, e o viajante Natimorto, de Paulo Machline, surpreendem. O longa Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo aposta na inovação do estilo e também agrada, mas não a todos.
Nas sessões internacionais, as melhores surpresas foram A Fita Branca, um duro passeio pelas raízes do nazismo, e (500) Dias com Ela, uma comédia romântica às avessas. Outra aposta acertada foi O Segredo dos Seus Olhos, sensível e elegante como todos os outros filmes de Campanella. Na categoria diversão pura, Black Dynamite não deixa nada a desejar.
Entre aqueles que não precisavam ser vistos estão o português Amália, sobre a cantora de fado Amália Rodrigues; o chinês O Fim do Amor e o pseudo-documentário brasileiro Flordelis – Basta uma Palavra para Mudar. Os curtas selecionados também ficaram devendo.
33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
No final de outubro foi a vez da capital paulista receber o seu festival. A tradicional Mostra de cinema chegou aos cinemas da cidade com mais de 400 títulos e, como em todos os anos, muitas dúvidas na hora de escolhe-los.
Com arte da dupla Os Gêmeos, o festival manteve a presença de velhos nomes e não deixou de apostar nos novos talentos. Sessões lotadas e a presença de vários realizadores foram os pontos altos do evento.
Entre os melhores filmes da seleção estão 35 Doses de Rum, de Claire Denis; Mau Dia para Pescar, de Alvaro Brechner; À Procura de Eric, de Ken Loach; e Polícia, Adjetivo, de Corneliu Porumboiu. O canadense Eu Matei a Minha Mãe, de Xavier Dolan foi uma das boas surpresas.
Vários dos títulos escolhidos já estavam dando o que falar mesmo antes das primeiras exibições em festivais. Foi o caso de O Fantástico Sr. Raposo, primeira animação de Wes Anderson; Maradona, documentário de Emir Kusturica sobre o famoso jogador de futebol argentino, e O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus, ilusão de Terry Gilliam aos moldes de As Aventuras do Barão Munchausen.
No mais, a maioria dos títulos estava dentro da média e não apresentava grandes problemas. Só mesmo o juvenil A Oeste de Plutão, de Henry Bernadet e Myriam Verreault poderia ter ficado de fora.
XI Festival Internacional de Cinema de Brasília
Com a maioria dos títulos já conferidos a esta altura do campeonato, em Brasília houve mais tempo para conferir as mostras paralelas e rever alguns dos títulos que precisavam ser redescobertos. Foi lá que Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo fez mais sentido para mim, por exemplo, assim com Insolação, de Daniela Thomas e Filipe Hirsch.
Entre os títulos que chamaram atenção estão Ricky, conto de fadas de François Ozon, e o do terror fantástico coreano Epitáfio, de Sik Jeong e Bum-sik Jeong. Também da Coréia veio aquele que está no topo da lista de todos os festivais do ano, o sensível e criativo Mother, de Joon-ho Bong.
Pessoalmente, A Fuga da Mulher Gorila é o que fica mais atrás na lista dos conferidos aqui.
42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Com pouquíssimo tempo de intervalo entre os dois festivais e as pilhas já pedindo uma recarga, começou aquele que foi o primeiro festival da minha vida, há 12 anos atrás. O tradicional Festival de Brasília movimentou a capital e deu o que falar ao escolher o novo filme de Fábio Barreto, Lula, o Filho do Brasil, para a sua abertura.
Em uma sessão concorridíssima no Teatro Nacional, os convidados dividiram o espaço (ou a falta dele) com políticos e jornalistas. Tinha gente amontoada nas escadas, em pé ao longo da parede e até deitada na rampa de acesso para conferir o melodrama sobre as primeiras fases da vida do presidente. Com os atores sem lugar para sentar, Fábio e Luiz Carlos Barreto ainda tentaram sugerir uma nova sessão do filme e chegaram a ser vaiados pelo apertado público.
Seguindo a tendência do ano passado, o número de documentários selecionados para a mostra competitiva foi grande. Entre eles, Filhos de João, o Admirável Mundo Novo Baiano, de Henrique Dantas, e Quebradeiras, um Evaldo Mocarzel diferente de tudo que já fez antes, merecem atenção. É Proibido Fumar tem uma pegada mais comercial, mas é interessante.
Os maiores destaques ficaram com os curtas em 35 mm. Amigos Bizarros de Ricardinho, de Augusto Canani, é uma mistura bem sucedida de Jorge Furtado e Wes Anderson e Recife Frio, de Kleber Mendonça é uma divertida crítica a tantas coisas que nem parece ser só um curta. Outro que merece ser citado é Ave Maria ou Mãe dos Sertanejos, com Camilo Cavalcanti mais uma vez mostrando sua habilidade para fazer poesia com imagens.
Do lado negativo do festival está Perdão, Mister Fiel, documentário do jornalista Jorge Oliveira. Ainda que tenha um conteúdo interessante e até bombástico, o filme tropeça tantas vezes em si mesmo que não consegue acontecer.
Foi assim que segundo semestre passou para o Cenas de Cinema: de festival em festival, entre filmes bons, normais, medianos e ruins e muitas histórias para contar. Na correria, algumas vezes é preciso optar entre ver os filmes ou escrever sobre eles e, por isso, nem todos podem ser encontrados comentados aqui. Pelo menos não por enquanto.
Agora é esperar pelo próximo ano e seus festivais.
Oi, gente!
Daniel, eu espero, de verdade, que o Festival de Gramado volte a ser um festival de cinema de verdade, deixando de lado todo aquele desfile de estrelas e glamour e os impraticáveis preços dos ingressos.
Para participar de festivais como espectador, basta comprar os ingressos e os lugares na sessão estão garantidos.
Vou dar uma olhada lá no Blog dos Cinéfilos, Sérgio! Que bom que você usou o Cenas para se atualizar. :)
Bruno, foi uma loucura, mas sempre vale a pena, né? Quem sabe no ano que vem a gente se cruza no Festival do Rio.
Que que é isso, Fred… Hehehe. Eu falei sobre o FIC durante o festival, né? Como foi um dos últimos acabou ficando prejudicado mesmo, mas no ano que vem eu faço diferente.
Obrigada, Vinícius! Sei que um dia a gente ainda vai se encontrar nos em festivais por aí.
Então vamos nos esbarrar por lá, Cíntia. Também estarei aí no Festival do Rio.
Quanto às pessoas mal educadas do cinema, não sei mais o que fazer. Será que existe alguma maneira disso mudar?
Obrigada, Wally! Faltou muita coisa esse ano, foi muita confusão, mas em 2010 vai ser melhor.
Beijocas a todos!
Parabéns pelo texto (e pela cobertura completíssimas dos festivais).
OI Cecília!
Seu texto sobre "da pra calar a boca" ta perfeito. Seu desabafo é franco e corretíssimo, pois sou partidária da mesma opinião que vc. A turma perdeu o respeito e cinema virou lugar de bagunça,confusão e desrespeito. Ja passei por cada situação chata e constrangedora. Se tem uma coisa que me deixa de chateada, aborrecida e de mau humor é o fato de ir ao cinema e não conseguir ver um filme por causa de idiotas e pessoas ignorantes. Isto me tira do sério.
Parabéns!
E sua cobertura sobre os festivais que rolaram em 2009 estão bem escritos e direcionados para os principais fatos que marcaram cada um. Neste ano infelizmente não pude ir no que teve aqui no Rio e fiquei muito chateada. Mas, no proximo irei sem falta.
Aproveito para lhe desejar um feliz e alegre natal!!!
Um beijinho carinhoso.
Cintia Carvalho.
Queria ter essa vida de Festivais também, hehehe :-)
E parabéns pela cobertura de todos aqui no blog!
Uau Cecília!
Quando eu crescer, quero ser como você! ehehe
Deve ter sido mágico passar por tantos festivais. Senti falta de uma análise do FIC Brasília como festival, porque ficou só nos filmes. Dos outros festivais você fez comentários…
Vi mais ou menos a mesma quantidade de filmes que você, só que juntando festivais e circuito comercial. Também só não vi mais porque dediquei muito tempo a escrever e a produzir.
Vou aproveitar o gancho e pedir seu e-mail (você pode me mandar um, pro [email protected]). Queria ter tirado umas curiosidades e pedido umas dicas quando nos encontramos, mas acabou não rolando…
Que privilégio hein!!!
Ah, pelo menos eu curti aqui um pouco o festival do Rio,rs
Beijos!
E aí Cecília lembra de mim? do Blog dos Cinéfilos hehehehe estou voltando a atualizar.
Fiquei por fora da maioria dos festivais nesse período… vc me ajudou a uma atualizada com esse texto hehe valeu!
Gostaria muito de ir ao Festilval de Gramado. Como gaúcho cinéfilo, me arrependo de nunca ter frequentado esse grande festival. Tu sabes como funciona para participar como espectador do festival?
Beijos!