A sala se abre como um confessionário coletivo, com risos que se dissolvem em silêncio e histórias que oscilam entre o alívio e a fúria contida. É nesse espaço, ao mesmo tempo terapêutico e performático, que um grupo de comediantes compartilha mais que piadas. Eles entregam recortes de si mesmos que os palcos pouco deixam à prova. Group Therapy, de Neil Berkeley, constrói essa costura tensa entre fragilidade e show, entre o que ecoa no riso e o que se esconde no respiro que vem depois.
A proposta é simples e arriscada: os comediantes Tig Notaro, Gary Gulman, Mike Birbiglia, Nicole Byer, Atsuko Okatsuka e London Hughes sentam-se em círculo, no mesmo ambiente, mediadas por Neil Patrick Harris, para revelar fissuras emocionais, compulsões, perdas e medos que moldaram suas piadas. Como um reflexo invertido do stand-up, aqui não é o público que ri, e nem é esse riso que se busca. O riso deles mesmos clareia – e alivia – as feridas expostas.
Alternando entre momentos comoventes e outros que soam convenientes, Group Therapy mantém-se no território seguro do formato. É um documentário de estrutura previsível, com depoimentos intercalados a trechos de stand-up e uma sequência calculada de revelações. Usa o humor como antídoto, mas evita se aprofundar onde a dor é mais persistente.
Ainda assim, há momentos interessantes, como quando Gulman admite que a depressão foi nomeada pelo próprio irmão, Birbiglia brinca com o corpo como terreno de insônia absurda e Notaro recorda o peso da perda com voz trêmula, o riso solta o efeito calmante e a sinceridade arde sozinha.
Group Therapy termina sem promessas de cura, e lembra uma máxima conhecida desde o primeiro palhaço do mundo: a comédia não apaga a dor. O riso, na verdade, pode ser um pedido de socorro. E é preciso escutar, mesmo quando tudo o que se quer é que o show continue.
Um grande momento
Nem toda mãe, mas sempre uma mãe