Crítica | Streaming e VoD

Ana e Vitória

(Ana e Vitória, BRA, 2018)
Comédia
Direção: Matheus Souza
Elenco: Ana Caetano, Vitória Falcão, Clarissa Müller, Thati Lopes, Bruce Gomlevsky, Bryan Ruffo, Victor Lamoglia, Gabriela Nunes, Caique Nogueira, Érika Mader, Hamilton Dias
Roteiro: Matheus Souza
Duração: 115 min.
Nota: 4 ★★★★☆☆☆☆☆☆

Duas meninas comuns, que estudaram juntas em Araguaína, Tocantins, se encontram numa festa e montam o duo musical Anavitória. Assim começa a autoficção (como elas mesmo classificam o filme) Ana e Vitória, produzida pelo empresário das duas, Felipe Simas, e, de certo modo, uma maneira diferente de ilustrar e apresentar o folk fofinho (pop rural, segundo elas) que domina o setlist da dupla.

Dirigido por Matheus Souza, que assinou os hipsters Apenas o Fim e Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida, o filme se equilibra entre dois caminhos muito diferentes. De um lado, a crueza exposta das atuações e um roteiro recheado de frases para lá de bobas; de outro, um cuidado muito grande com a composição visual.

A primeira cena do filme, um plano-sequência que apresenta a festa onde jovens trocam mensagens por celular, com a inserção dessas mensagens na tela, funciona muito bem. A constituição desse ambiente e delimitação de uma época de vida, em um quadro musical, é promissora, mas não encontra um prosseguimento natural.

Apoie o Cenas

Além de planos e falas estranhos e forçados, há uma tentativa insistente em fazer com que a letra das músicas esteja adequada às ações, como se elas tivessem sido pensadas pelas composições, sem preocupações maiores com a trama como um todo. Assim, sucedem-se quadros musicais redondinhos, pensados e repensados esteticamente, que exploram a variação de linguagem, mas estão perdidos entre tentativas forçadas de conexão.

A história que se cria depende, portanto, do conteúdo musical, mas a monotemática do repertório, que remete a uma espécie de arcadismo contemporâneo, ainda que seja fofa, não fornece material para clímaces ou grandes reviravoltas. E Ana e Vitória segue numa linha pouco atraente, funcionando como uma grande colagem de videoclipes românticos.

Porém, mesmo que não haja a imersão narrativa, há uma sugestão importante no argumento. O quadro formado com as músicas do duo traz à tela uma representação ainda pouco explorada dos millennials, jovens que se desenvolveram junto com a tecnologia, em um outro momento econômico, e que, na mesma medida, sentem o peso frustração e se aproveitam da liberdade de viver e experimentar: profissionalmente, sexualmente, emocionalmente.

Ana e Vitória, disponível na Netflix, é uma obra jovem, sobre como a nova geração de jovens adultos enxerga as relações de afeto, mas que não se encontra no desenvolvimento e está refém de um formato que não favorece a fluidez. Perdido entre cinema e especial musical, Ana e Vitória cumpre o papel de apresentar o duo e o de agradar seus fãs.

Um Grande Momento:
“Ai, Amor”

Links

IMDb

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
Botão Voltar ao topo