Crítica | Outras metragens

Dosh

Qual é a deficiência?

(Dosh, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Radha Mehta
  • Roteiro: Radha Mehta
  • Elenco: Renu Razdan, Nikhil Prakash, Mona Sishodia, Tyler Anton, Srishti Birla
  • Duração: 16 minutos

Os distúrbios psiquiátricos ainda são tabu que precisam ser debatidos e normalizados em qualquer sociedade. O curta-metragem Dosh, dirigido pela multiartista Radha Metha, aborda a dificuldade de uma família tradicional de imigrantes da Índia em lidar com o transtorno bipolar. Karishma, a protagonista, tenta convencer o marido a procurar ajuda já que ele pode se tornar um perigo para si mesmo, para ela e para o filho dos dois. Em um jogo com aquilo que move outro lado da narrativa, ele ignora o que ela diz, assim como a sogra, que transfere a responsabilidade, negando o problema. 

A convivência com alguém bipolar, quando não há tratamento do distúrbio, é complexa. Não é possível prever o que pode acontecer ou a intensidade das reações e o cotidiano se transforma em constante estado de alerta. A alternância entre humores, da depressão profunda à euforia extrema, é terrível tanto para quem vive como para quem convive. Por isso, a negação e o não tratamento é o pior que pode acontecer.

A diretora é elegante em suas escolhas e sabe manipular elementos, criando alguma tensão. O modo como os personagens se acomodam à trama é interessante, embora se possa entender que haja uma certa conotação apelativa de outras questões, como o fato de a protagonista ser deficiente auditiva. Para além da construção sensorial que se estabelece e leva ao ponto de virada principal, isso é fundamental não só para que a trama evolua como para sua principal perspectiva: além de ter a percepção plena de todos os eventos e acontecimentos, quem não escuta aquilo que é dito são o marido e sua mãe. A ideia de Metha é mostrar que a deficiência, tradução literal do título em hindi, não é limitadora e nem se restringe a determinações antiquadas e intolerantes.

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Bonito aos olhos, bem atuado e cuidadoso em sua concepção, Dosh, traz à tela aquilo que pouco se vê em local de protagonismo. Obviamente que, em tempos de No Ritmo do Coração (CODA) e todo um justo movimento a favor dos direitos das pessoas surdas, devemos aqui debater a questão do casting. Porém, para além dos deslizes, o que se destaca é mesmo o modo como expõe o deslocamento de preconceitos e define seus focos.

Um grande momento
A mãe corre

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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